Archive for 08/09/12

Com base no livro de Silvio Essinger, no espetáculo e em entrevistas com nomes representativos de cada uma das quatro décadas do funk no Brasil, listamos 40 hits para relembrar essa história.


1. "Sex machine" - James Brown

"Essa música é a mais famosa de todo o movimento, a que mais emplacou. Aqui no Brasil ela chegou bem na época dos bailes, era a música do momento. Tocou em rádio, ultrapassou os limites da black music para se tornar uma música pop", explica Leandro Petersen, filho do Big Boy, um dos responsáveis pela pesquisa musical da peça e produtor da festa Soul, Baby, Soul. "As pessoas têm mania de falar que o funk tem conotação sexual e costumo citar essa música como exemplo que é uma questão muito mais de movimento. Também tinha uma coisa de mau gosto para a sociedade. É mais ou menos a mesma coisa que falar ' ficando atoladinha' hoje. Só evoluiu dentro do mundo. Faz parte da questão do funk mesmo, do pobre, do excluído, que fala de conotação sexual, de violência. E esse é o primeiro funk de referência, que marcou uma geração", acrescenta o herdeiro do Big Boy.
2. "Mandamentos black" - Gerson King Combo
3. "Think (About it)" - Lynn Collins
4. "Podes crer, amizade" - Tony Tornado
5. "Do they funky chicken" - Rufus Thomas
6. "Thank falettinme be mice elf again" - Sly and the Family Stone
7. "(I got) So much trouble in my mind" - Sir Joe Quarterman and Freesoul –
8. "Givin up food for funk" - The JBs
9. “Soul power 74” - James Brown (feat. Maceo Parker)
10. "People get up and drive your funky soul" - James Brown


 
11. "Melô da mulher feia" - Abdulah

"É importante porque foi a primeira do funk nacional. Foi a partir dela que nasceu o movimento no Rio. Foi a primeira em português, cantada pelo Abdulah [em uma versão a partir de 'Do wah diddy', da 2 Live Crew, também na lista abaixo]. Foi a partir dali que tudo começou", explica o DJ Marlboro, que incluiu a faixa no primeimro  "Funk Brasil", de 1989, que abriu as portas para a explosão do funk na década de 1990.

 12.  "Planet Rock" - Afrika Bombaataa
13. "Do wah diddy" - Live 2 Crew
14. "Supersonic" - JJ Fad
15. "Freakazoid"  - Midnight Star
16. "Get down on it" - Kool and the Gang
17. "Don't stop the rock" - Freestyle
18. "Olhos coloridos" - Sandra de Sá
19. "Spring love" - Stevie B
20. "They're playing our song" - Trinere


 21. "Rap da felicidade" - Cidinho e Doca

O famoso refrão "O que eu quero é ser feliz / Andar tranquilamente na favela onde eu nasci" ecoou com força em uma época marcada pelo comando do tráfico nas comunidades do Rio. "Acho q eu essa frase resume tudo", diz Buchecha, criado em uma favela de São Gonçalo, na Região Metropolitana da cidade. "É um hino. Todos cantavam essa música. É o grito do povo. É o que todo nos vivemos", acrescenta.

22. "Rap do Borel" - William e Duda
23. "Rap do Salgueiro" - Claudinho e Buchecha
24. "Nosso sonho" - Claudinho e Buchecha
25. "Rap da diferença" - MC Dollores e MC Marquinhos
26. "Rap do solitário" - MC Marcinho
27. "Rap do Silva" - MC Bob Rum
28. "A distância" - Márcio e Goró
29. "Rap do Pirão" - MC D'Eddy
30. "Me leva" - Latino


31. "Baile da Pesada" - Fernanda Abreu

A música que resume a história do movimento funk no Rio foi lançada pela cantora em 2000, no álbum "Entidade urbana". "É a que descreve melhor os bailes destes 40 anos de funk e soul", opina Mario Henrique, o DJ Peixinho, que acompanhou todo o processo de evolução do ritmo no país — é, inclusive, um dos personagens da peça — e até hoje ainda toca em festas como a Soul, Baby, Soul.

32. "Se ela dança, eu danço (Ela só pensa em beijar)" – Mc Leozinho
33. "Cerol na mão" - Bonde do Tigrão
34. "Adultério" - Mr. Catra
35. "Glamurosa" (1992) - Cidinho e Doca
36. "Boladona" - Tati Quebra Barraco
37. "Créu" - MC Créu
38. "Tremendo vacilão" - Perla
39. "Chantilly" - Naldo
40. "Danada vem que vem" - MC Koringa

No meio da década de 1990, a dupla emergente no cenário funk carioca Claudinho e Buchecha chegou para gravar pela primeira vez com o já popular DJ Marlboro. Vestidos com jaquetas, correntes e outros acessórios, causaram ruídos no som ao dançarem no estúdio. Como solução, veio o ordem inusitada do anfitrião — quase um trote nos “calouros”: teriam que continuar a gravação só de cueca. "Marlboro é um sacana. Ainda ficou ameaçando que ia mostrar as fotos para todo mundo", lembra Buchecha, aos risos.

A história, confirmada com orgulho pelo DJ, é uma das muitas que conduzem o musical “Funk Brasil – 40 anos de baile”, que estreia nesta quinta-feira (9) no Teatro Miguel Falabella, na Zona Norte do Rio de Janeiro. De forma cronológica e ao som de 64 hits, o espetáculo coescrito por Pedro Monteiro — que também atua — e João Bernardo Caldeira, com direção de Joana Lebreiro, narra a trajetória do ritmo a partir dos Bailes da Pesada de Big Boy e Ademir no Canecão, no início da década de 1970, com base no livro "Batidão — Uma história do funk", de Silvio Essinger.

"Vou me emocionar bastante [com a peça] porque que vou ver minha história. Estou com 20 anos de funk, metade disso aí eu faço parte", comenta Buchecha, que era pagodeiro e foi convencido pelo parceiro Claudinho (1975-2002) a fazer funk e participar do Festival de Galeras no Clube Mauá de São Gonçalo, no início dos anos 1990 — ficaram em terceiro lugar com "Rap da bandeira branca" em 1993 e venceram com "Rap do Salgueiro", dois anos depois.

A dupla é representativa da década que consolidou o funk carioca, em movimento iniciado a partir do lançamento do CD "Funk Brasil", do DJ Marlboro, em 1989. "Sinto orgulho de ver que a galera não está deixando a peteca cair. Acho que o funk já fincou as bases e está muito bem quisto. Não ficou estagnado como um ritmo só para suburbano", acrescenta Buchecha.

De fato, o estilo que nasceu nas favelas, dando voz às comunidades, conquistou fãs em todas as classes e venceu o preconceito. Antes restritos aos bailes e às vezes vinculados ao tráfico, hoje os hits fazem parte até de trilha sonora de novela, caso de "Danada vem que vem", do MC Koringa, tema da "piriguete" Suelen, personagem de Ísis Valverde em "Avenida Brasil".

"Foi através do funk que eu conheci a favela pela primeira vez. Tinha 15 anos, por volta de 1992. Foi o momento em que estourou o 'alô Pirão, alô alô Boavistão'", lembra Pedro Monteiro, em referência ao "Rap do Pirão", do MC D'Eddy.

Pedro, que já rodou o país com a peça "Os ruivos" e fez sucesso em um comercial de cerveja no qual contracena com Beto Barbosa vestido com um blazer e uma pochete, ao som de "Adocica", teve a ideia de realizar o espetáculo em 2007, ao assistir a performance na Estação Leopoldina, na Zona Norte do Rio.
"Fiquei olhando para aquilo e vi que não tinha nada a ver com quem frequentava o vagão do trem. Queria fazer alguma coisa para aquelas pessoas. Aí veio a luz de contar a história do funk", explica. "É como se fosse em um baile mesmo, ninguém sai de cena."

"Funk Brasil - 40 anos de baile" fica em cartaz até 30 de setembro, de quinta a domingo, às 18h. Os ingressos custam R$ 30. Além de Pedro, estão no elenco Alex Gomes, Cintia Rosa, Dérik Machado, Julia Gorman e Marcelo Cavalcanti.

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