Archive for 01/23/13



Estou sempre observando qual  a melhor maneira para desligar por alguns minutos do mundo que me cerca e buscar a almejada comunhão cósmica. Para silenciar vozes externas preciso sempre de uma boa música. Claro fica para todos nós que a música tem o poder de evocar lembranças, criar imagens e mexer com nosso ser interior. Os ritmos vibrantes nos convidam a dançar, sacudir o corpo, acompanhar a percussão com os pés, mas pra meditar e tentar conter as outras sensações a música ideal é aquela que nos mantém calmos, que nos conduz à serenidade. Então começo por selecionar as músicas que me acompanharão nessa experiência insana para a maioria das pessoas. Sim, porque para muitas o estado de êxtase vem do louvor coletivo, do entusiasmo vibratório que se consegue nas catarses coletivas.  Isso é uma evidência que todas as formas de orar e buscar a Deus são  verdadeiras.  O Ser em nosso interior pode ser despertado por vários métodos. Este artigo traz embutido, além da mensagem  da importância da música no processo de meditação, o reconhecimento das verdades alheias , da aceitação e tolerância quanto às formas de amor divino.
 Estar em harmonia é trazer para a vida prática o que aprendemos na solidão de nossos sanctuns, nas viagens que bloqueiam nossos sentidos e nos transformam em energia pura. Temos observado que a meditação é espiralada e, certa vez, ao tentar explicar isso a um novo amigo, ele só conseguia imaginar a espiral em um plano, como um caracol desenhado sobre uma folha de papel. Para ele a espiral tinha apenas duas dimensões. Senti que ele teria dificuldades em pensar na espiral em três dimensões, como uma mola. O ponto de encontro de nossas formas de abordagem para a comunhão foi a música. Ele sentia que determinadas músicas tinham o poder de isolá-lo do mundo e encaminhá-lo para  labirintos interiores. Melodias apenas instrumentais e sua experiência era mais intensa quando a música era crescente, começavam mais graves e, aos poucos, atingiam notas mais altas. Ele acompanhava as variações da música. Ele sentia a música em espiral.  O treinamento foi burilando seu gosto musical, lhe apresentando novos instrumentos e arranjos de uma mesma peça. Alguns compositores pareciam ser especialistas e terem composto com o objetivo de levar as pessoas ao clímax. Assim, a música que tanto mexe conosco, cumpre sua função de nos tirar do cotidiano e nos transportar para uma aventura desconhecida, mas muito familiar, de descobrimento e encantamento interior.
O caminho de volta para si mesmo é solitário e particular, por isso não se pode dizer que esta ou aquela música conseguirá  acompanhá-lo nessa jornada mística. Cada um precisa fazer sua pesquisa e encontrar as músicas com as quais se identificam. É como na vida. Temos níveis de aprendizado, de consciência, de evolução. Se a ninguém é dado o poder de saber quanto o outro já caminhou na Senda, podemos, no entanto, nos reconhecer e nos identificar com aqueles que estão no mesmo plano. Faço questão de frisar que a visão hierárquica só é válida para este mundo que vivemos. No reino espiritual somos apenas energia. Somos como elétrons e nêutrons girando em torno do núcleo. Podemos estar mais próximos do centro, ou mais distantes, mas não podemos classificar esses estágios como superiores ou inferiores. Isso é coisa humana, existe para provocar a ordem e a disciplina. Da mesma forma, não se pode afirmar que o que aqui escrevo/descrevo seja uma verdade absoluta. Apenas compartilho experiências que podem acender o estopim de alguns, sem o compromisso de provocar a grande explosão. O caminho a ser seguido é de disciplina, de obediência, de humildade, de retidão. Pode-se oferecer a chave, mas ela está em uma sala cheia de outras chaves e cada um terá que encontrar a sua, e ainda ter a consciência de que a sua verdade ainda não é a absoluta, mas abre algumas câmaras secretas. A chave dos grandes mistérios ainda está oculta para a humanidade. A aventura está em descobrir, em desvendar, em estudar e dedicar parte do seu tempo na construção de um mundo melhor.
(Kleber Adorno, escritor, advogado e pró-reitor de Comunicação e Cultura do Uni-Anhanguera)

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