Archive for 11/17/12


Gene Simmons, Tommy Thayer e Paul Stanley, ao vivo, em 2010: line-up volta ao Brasil após três anos. Foto: Getty Images
Gene Simmons, Tommy Thayer e Paul Stanley, ao vivo, em 2010: line-up volta ao Brasil após três anos

No início da década de 1970, quando o Reino Unido já havia se firmado como o grande berço dos grandes grupos de rock mundial, surgia nos EUA uma banda diferente de todas os outras. Mistério e pirotecnia se aliavam a temáticas de amor e de adolescência rebelde em uma mistura que tornou um quarteto um dos mais enigmáticos, populares e lucrativos da história do rock. Nascia, na cidade de Nova York, a banda Kiss, que retorna ao Brasil, pela quinta vez, nesta semana, para shows em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. 
Fundado em 1973 por Paul Stanley (guitarra e vocal), Gene Simmons (baixo e vocal), Peter Criss (bateria) - os três até então integrantes do Wicked Lester - e Ace Frehley (guitarra solo), o Kiss buscou desde sempre a fama de uma forma diferente. Para chamar a atenção para suas canções joviais, com temáticas como amor, sexo e rebeldia, o grupo criou personagens para cada um de seus membros, com pinturas faciais e vestimentas características. Eram eles The Starchild (Stanley), The Demon (Simmons), The Spaceman (Frehley) e The Catman (Criss). Logo, em novembro daquele ano, o quarteto chamou a atenção do executivo Neil Bogart, recém-fundador do selo Casablanca Records, que assinou um contrato com os músicos.
No entanto, apesar de Kiss, o primeiro trabalho de estúdio, de 1974, ter trazido em seu play-list canções que viriam a se tornar hits absolutos do rock, como Strutter e Deuce, o sucesso não veio da forma rápida como era esperada. O mesmo ocorreria com seus sucessores, Hotter than Hell (1974) e Dressed to Kill (1975), que não conseguiram posições de destaque nas paradas de sucesso norte-americanas. Sem um nome de peso em seu casting, a Casablanca Records se afundava em dívidas, e, mesmo com apenas alguns meses de vida, já se encontrava à beira da falência.
Mas a grande virada estaria por vir. Bogart logo percebeu que, enquanto os discos do quarteto custavam a vender, suas apresentações ao vivo estavam sempre cheias. A solução era simples: produzir um disco ao vivo que conseguisse transmitir ao fã, por meio de seu toca-discos, toda a energia de um show do grupo, incluindo o barulho do público, as explosões e os gritos do carismático Paul Stanley. Alive! chegou às lojas dos EUA em setembro de 1975, atingiu a oitava colocação das paradas de sucesso do país e logo conquistou o certificado de Disco de Ouro por ali. Enfim o Kiss ganhava relevância e, sua gravadora, sobrevida no mercado.
Auge
Foi a partir daí que o Kiss começou a se mostrar capaz de se tornar um caça-níqueis da música mundial. Meses depois do lançamento de Alive!, o quarteto lançou, em 1976 e 1977, três imensos sucessos de sua discografia:DestroyerRock and Rol Over e Love Gun - todos certificados com Disco de Platina nos EUA. O slogan "a banda mais quente do mundo", bradado desde o início da carreira em todas as suas apresentações, começava a fazer sentido. A segunda compilação de suas canções ao vivo, Alive II, que também trazia algumas músicas inéditas, seguiu o mesmo percurso, vendendo mais de 2 milhões de cópias somente nos EUA.
O Kiss inaugurou uma nova era para os grandes shows. Com pirotecnia, fogos e muita teatralidade, o quarteto logo viu a aliança perfeita entre seus hits rock´n´roll e sua misteriosa e característica imagem. Passaram a brotar participações do grupo em especiais de televisão e uma série de produtos atrelados a ele, como revistas em quadrinhos, bonecos, fantasias e até um longa-metragem - Kiss Meets the Phantom of the Park, produção filmada em um parque de diversões californiano, na qual os integrantes do quarteto interpretavam a si próprios, mas como super-heróis. Uma pesquisa conduzida pela Gallop Poll, em 1977, elegeu a banda a mais popular dos EUA.
Com quatro trabalhos certificados com Discos de Platina em um período de dois anos, a banda logo partiria para um projeto ambicioso. Em 1978, Stanley, Simmons, Frehley e Criss lançaram, cada um, na mesma data, seus primeiros álbuns solo, todos com capas semelhantes, em que apareciam desenhados individualmente com suas respectivas máscaras, e com o logotipo do Kiss cravado no canto superior esquerdo. Mais uma vez, os quatro levaram platina. No entanto, era o começo da derrocada do grupo. Lançado em 1978, Dinasty foi o último disco da banda a figurar entre os top 10 das paradas norte-americanas em muito tempo - algo que só viria a se repetir em 1992, com Revenge. Apesar da boa vendagem, alavancada principalmente pelo sucesso da canção I Was Made for Loving You, o trabalho foi mal recebido pela crítica e, a despeito da duração de sua turnê, a com mais datas do grupo até então, o giro não foi bem-sucedido, tendo uma série de shows cancelados.
Além disso, o baterista Peter Criss, que praticamente nada gravou para o álbum devido a um acidente de carro, começava a se mostrar desinteressado pelo grupo. E sua técnica parecia a cada dia menos apurada. Tais fatos o levaram a ser demitido do Kiss ao fim do giro, sendo substituído por Eric Carr, que também assumiu uma nova máscara na banda, a da raposa (The Fox).
A crise se manteve. Em 1982, insatisfeito com os rumos tomados pelo quarteto, principalmente devido aos fracassados Unmasked e Music from the Elder, lançados em 1980 e 1981, Frehley abandonou o Kiss. Pela primeira vez, o grupo que havia se tornado o mais popular dos EUA se via apenas com seus dois idealizadores no line-up. E, também pela primeira vez, se via na urgência de reinventar-se totalmente, a fim de se manter relevante no mundo da música.
Uma nova fase
O mundo ainda desconhecia os rostos por baixo das pinturas. Nas chegadas a eventos, shows e mesmo caminhando pelas ruas, os integrantes do Kiss insistiam em manter no ar o mistério de suas faces, andando sempre disfarçados, sem revelá-las ao público. A última turnê mascarada se deu entre os anos de 1982 e 1983, quando o grupo fez sua estreia em território brasileiro, trazendo como novidade um novo guitarrista, Vinnie Vincent, na pele do personagem guerreiro Ankh, símbolo do antigo egípcio. Em 1983, no entanto, após o giro do pesado Creatures of the Night, os músicos finalmente mostravam seus rostos, na capa de Lick it Up. Tinha ínício uma nova fase, com um hard rock mais moldado àquele que fazia cada vez mais sucesso nos EUA e um visual glam.
Apesar de os quatro trabalhos seguintes - Animalize (1984), Asylum (1985), Crazy Nights (1987) e Hot in the Shade (1989) - terem conseguido, todos, ao menos um certificado de Disco de Ouro em território norte-americano, o Kiss claramente não era mais a banda de outrora. Com mais duas trocas de line-up - Mark St. John no lugar de Vincent, em 1984, e, posteriormente, Bruce Kulick assumindo seu posto, no mesmo ano -, o quarteto viu a figura de Gene Simmons, cada vez mais preocupado com projetos fora da música, perder espaço e a de Paul Stanley, logo alçado ao status de sex-symbol, ganhar mais e mais força como frontman.
Mas, em 1991, veio a tragédia. Após dez anos sob o comando das baquetas do quarteto, Eric Carr morreu, em 24 de novembro, mesmo dia do falecimento de Freddie Mercury, do Queen, de hemorragia cerebral, aos 41 anos de idade. O óbito veio durante as gravações deRevenge, após meses de luta do músico contra um câncer. Stanley e Simmons, no entanto, optaram por dar prosseguimento aos planos da banda, e Eric Singer, cujo currículo incluía nomes como Alice Cooper, o substituiu e finalizou o trabalho.
Retorno ao auge
Em agosto de 1995, Peter Criss e Ace Frehley foram convidados para participar das gravações do Acústico MTV. Apesar de ter lançado, no ano seguinte, Carnival of Souls, disco que já estava pronto desde 1994, com Kulick e Singer no line-up , era o início da reunião. No dia 28 de fevereiro de 1996, Simmons, Stanley, Criss e Frehley apareceram pela primeira vez lado a lado e mascarados após mais de 15 anos, na 38ª edição dos prêmios Grammy. Em junho, a formação original do grupo iniciava sua primeira turnê desde 1978, que contou com 192 shows em 11 meses, com lucros de mais de US$ 40 milhões no período. O espetáculo de abertura daReunion Tour teve seus 40 mil ingressos esgotados em apenas 40 minutos.
Três anos depois, o que os fãs mais aguardavam se tornava realidade. Após 20 anos, o line-up que tornou o nome do Kiss um dos maiores da história do rock voltou a lançar um trabalho de inéditas. Psycho Circus, contudo, foi envolto em controvérsias. Boatos de que os integrantes do grupo sequer teriam gravado seus instrumentos, rumor que atingiu também a performance de palco do quarteto, proliferaram. Frehley e Criss continuavam a causar problemas pela falta de dedicação e excesso de álcool/drogas durante as turnês. No entanto, o gigantismo do show 3D, o primeiro da história da música, ofuscou tudo isso, e a banda permaneceu no topo.
Todo o aspecto mercadológico do Kiss voltava com tudo. Histórias em quadrinhos, dezenas de séries de bonecos de ação (action figures), camisinhas, livros, DVDs comemorativos e até um caixão, o Kiss Kasket, geravam aos músicos mais lucros do que nunca. Mas a reunião não durou. Logo, em 2001, Criss foi substituído por Eric Singer. Um ano depois foi a vez de Frehley, tendo o seu posto ocupado por Tommy Thayer.
De volta ao estúdio
As turnês prosseguiam, apresentando repertórios compostos apenas por clássicos ou celebrando datas especiais - como a Alive 35 Tour, que passou pelo Brasil. Mas dez anos se passaram desde o lançamento dePsycho Circus e nada de novos discos de estúdio. Enfim, em 2008, a banda, já envolta há anos em rumores de que poderia até encerrar sua carreira, trouxe um trabalho de inéditas aos fãs. E Sonic Boom foi um grande sucesso.
O disco chegou ao topo da Billboard 200, principal ranking da música norte-americana, e, apesar de não ter recebido críticas sempre positivas, deu um novo gás à banda. "O propósito deste álbum não é deixar as pessoas saberem que ainda estamos por aí, é deixá-las sabendo que ainda conseguimos bater em qualquer um que está por aí", disse Stanley na ocasião do lançamento do trabalho.
Em abril de 2012, um novo disco, o 20º do quarteto - e o segundo em um espaço de apenas três anos: Monster. E é esse disco, talvez o melhor do Kiss dos últimos 20 anos, que a banda promove em três shows no Brasil nesta semana. Com agenda já cumprida em Porto Alegre, Buenos Aires, Assunção e Santiago, o giro sul-americano será encerrado no domingo (18), na HSBC Arena, no Rio de Janeiro.

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