Conheça 15 faixas essenciais da música caipira

Em tempos de festas juninas, G1 mostra os clássicos caipiras.
Seleção vai de Inezita Barroso e João Pacífico a Almir Sater.

Do G1, em São Paulo

Tonico e Tinoco posam para capa de disco no começo da carreira. (Foto: Divulgação)

Aproveitando a temporada de festas juninas, o G1 listou 15 das canções mais importantes para a música caipira. João Pacífico, Tonico e Tinoco, Almir Sater e Inezita Barroso – alguns dos principais nomes do estilo – figuram na seleção, que foi elaborada pela reportagem do G1 sem critérios técnicos e, portanto, não tem caráter definitivo.

 

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Ouça uma seleção de músicas caipiras na GloboRadio

 

Segundo a escritora Rosa Nepomuceno, autora do livro "Música caipira: da roça ao rodeio", o som do caipira brasileiro no século XX tem duas origens – a urbanização do país, que permitiu que a música fosse registrada e vendida em larga escala, criando um público e um método para o estilo; e a Semana de Arte Moderna de 22.

Explica-se: os modernistas tinham um pendor pela cultura genuinamente brasileira, e aprovaram as primeiras manifestações musicais nesse sentido. Guilherme de Almeida apadrinhou João Pacífico, enquanto Mário de Andrade chegou a compor modas, como a clássica "Viola quebrada".

A música caipira tem inúmeras origens e influências, graças ao vasto interior brasileiro – mistura moda de viola, toadas, cururus, guarânias, cateretês, emboladas, marchas, valsas. Tião Carreiro, mestre da viola e fã de samba, chegou a criar seu próprio jeito de tocar o ritmo na viola, o pagode caipira. Para quem estranhava a mistura, costumava responder "música só tem dois tipos, a feia e a bonita".

Confira abaixo as músicas caipiras selecionadas pelo G1:

"Tristeza do Jeca" - Tonico & Tinoco
Composta por Angelino de Oliveira, a toada tem o nome do texto (considerado preconceituoso na época) assinado por Monteiro Lobato, falando dos augúrios do homem do campo. Versos como "Nesta viola eu canto e gemo de verdade/ Cada toada representa uma saudade" ficaram cristalizados na melancolia da voz da dupla de Botucatu, interior de São Paulo.


"Índia" - Cascatinha e Inhana
A versão de José Fortuna para a guarânia paraguaia, gravada pela dupla Cascatinha e Inhana, foi um dos maiores sucessos da música sertaneja, vendendo meio milhão de cópias nos anos 50. Uma das músicas favoritas do presidente Juscelino Kubitschek, ganhou versões como a de Gal Costa (faixa-título do disco "Índia", de 1973) e a paródia de Tiririca, que repetia infinitamente o primeiro verso "Índia seus cabelos".


"Menino da porteira" - Sérgio Reis
A música de Teddy Vieira e Luizinho sobre o trágico destino de um garoto atropelado por um boi virou filme na década de 70, protagonizado por Sérgio Reis (autor da versão definitiva da canção) e que ganhou até remake em 2009, com o sertanejo Daniel no papel principal. Apesar do flerte com o sertanejo mais moderno e o chapéu de caubói, Sérgio Reis ainda é respeitado como um dos guardiões da música caipira.


"Cabocla Teresa" - João Pacífico
João Pacífico já foi chamado de "Noel Rosa da música caipira", e não é sem motivo. "Cabocla Teresa" (parceria com Raul Torres) é a canção mais conhecida do compositor de "Pingo d'água" e "Perto do coração". Com um longo trecho declamado antes da parte cantada, a história de vingança do "cabra de arma na mão" que mata a "cabocla" que o havia trocado por outro homem é uma das músicas mais melancólicas do repertório caipira.


"Rio de lágrimas" - Tião Carreiro & Pardinho
A música de Tião Carreiro (com Piraci e Lourival dos Santos) marcou para sempre o rio e a cidade que tem seu nome, Piracicaba. Apesar do tom animado, a letra é triste como uma canção dos Smiths ou de Frank Sinatra: "O rio de Piracicaba vai jogar água para fora/ Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora/ Eu quero apanhar uma rosa/ mas minha mão já não alcança/ Eu choro desesperado/ Igualzinho a uma criança".


"Chico Mineiro" - Tonico & Tinoco
A "Dupla Coração do Brasil" teve uma longa lista de sucessos ao longo da carreira, como "Pé de ipê" e "Moreninha linda", mas foi "Chico Mineiro" que entraram para o inconsciente coletivo nacional. A história dolorida da tragédia fraterna ficou como principal contribuição para o cancioneiro caipira, cantada ao longo de gerações com o mesmo sentimento da versão original.


"Chalana" - Almir Sater
O interior brasileiro é vasto e a música caipira atravessa meio continente sul-americano em direção aos rios do Prata e a fronteira com o Paraguai. Mário Zan, que compôs a música com Arlindo Pinto, diz que pensou na canção em um hotel de Corumbá, "vendo o rio passar, bem na janela do meu quarto". As águas do Paraguai dão o tom da saudade: "Ó chalana sem querer tu aumentas a minha dor/ Nestas águas tão serenas vai levando o meu amor".


"Moda da Pinga" - Inezita Barroso
Com bom humor, Inezita Barroso desafiou paradigmas – uma mulher cantando, em plena década de 50, sobre se embebedar de cachaça, a bebida alcoólica mais popular do Brasil. A moda, também conhecida como "Marvada pinga", é uma daquelas histórias cômicas que virou trilha sonora para bebedeiras homéricas e ressacas do mesmo nível.


"Rancho fundo" - Chitãozinho e Xororó
Composta pelos urbanos Ari Barroso e Lamartine Babo – conhecidos pela autorias de marchas carnavalescas, hinos dos times do Rio de Janeiro e sambas-exaltação, a música foi gravada pela primeira vez em 1931 e ganhou inúmeras versões, incluindo uma do rei da bossa nova João Gilberto. Mas a gravação mais conhecida e querida entre os brasileiros talvez seja mesmo a da dupla sertaneja Chiitãozinho e Xororó, que aparece no disco "Clássicos sertanejos", de 1996.


"Saudade da minha terra" - Tibagi e Niltinho
Saudade é aquela palavra que, aprendemos, só existe em português – a língua das primeiras grandes navegações, que ganhou mais peso no banzo dos escravos e se renovou no êxodo rural do século XX. Poucas músicas refletem tão bem a melancolia que é estar longe da terra querida, e também a felicidade da volta às raízes.


"Viola quebrada" - Pena Branca & Xavantinho
A canção se tornou um clássico caipira, mas é criação do modernista Mário de Andrade, que nutria grande obsessão pelos causos e pela vida do interior do país. Conhecedor do coração caipira, Andrade conta a vida de saudades do matuto que foi abandonado pela Maroca por ser um "fadista" que "nunca sabe trabaiá".


"Terra roxa" - Garcia & Zé Matão
A música caipira também tinha espaço para discussões que iam além das tristezas do amor e das saudades que dóem no peito. "Terra roxa", de Teddy Vieira, é uma fábula sobre o preconceito de um "grão-fino" contra um negro que não teria "troco para mil cruzeiros" – mas que se revela um grande fazendeiro, com mais de "280 mil pés de café".


"Rei do gado" - Tião Carreiro & Pardinho
Outra música de disputa entre "almofadinha" e "caboclo", "Rei do gado" virou até nome de novela, que tinha Sérgio Reis e Almir Sater no elenco. A disputa entre criadores de gado e plantadores é uma história tão antiga quanto a humanidade, rendendo brigas do Velho Oeste norte-americano e na Antiguidade – mitólogos como Joseph Campbell afirmam que o tema está por trás de muitas lendas de diferentes povos do mundo.


"Romaria" - Renato Teixeira
Renato Teixeira começou na MPB, mas redescobriu sua alma de caipira com o tempo. "Romaria" é talvez a sua composição mais conhecida – especialmente pela gravação da amiga Elis Regina, mas também pela letra, que é quase um hino de fé para o caipira: "Sou caipira/ Pirapora/ Nossa Senhora de Aparecida/ Ilumina a mina escura e funda/ O trem da minha vida".


"Beijinho doce" - Tinoco e Mazinho Quevedo
Muito antes de a versão de Flora e Donatela fazer sucesso com a novela "A favorita" e virar até funk carioca, a canção singela de Nhô Pai foi um sucesso gigantesco nos anos 50 na voz das Irmãs Galvão. Longe das tristes saudades e das histórias de amores perdidos, a música é daquelas que grudam com seu refrão melódico.

 Studio 2002

Posted by @paulostudio2002 @ sábado, 20 de junho de 2009 0 comments

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