Como destruir uma música

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Existe um caráter de imprevisível quando colocamos nossa cabeça pra funcionar, esprememos as idéias, ajustamos os ponteiros, removemos a poeira e compomos uma música.
Você simplesmente não sabe exatamente o que será feito dela e não possui controle algum sobre os caminhos que ela percorrerá. Quem poderia dizer que Robert Johnson, o tinhoso do blues, influenciaria toda uma geração de guitarristas e blueseiros, fundamentando todo um estilo musical, repercutindo, finalmente no rock?
Segundo Bob Dylan, “uma canção é algo que anda por si só” (“A song is something that walks by itself”). Talvez ele não pudesse estar mais correto. A prova:

Link YouTube | “Como as you are”. Genial.

Não parece, mas eles estão tocando Nirvana
Antes de seguir, uma pequena pausa para os fãs de Nirvana xingarem muito no Twitter.
Curiosa, também, é esta versão de “Wish You Were Here” (Pink Floyd):
E que tal um pouco de Eric Clapton (“Wonderful tonight”), por Leandro e Leonardo?
Pra finalizar, a mais impactante de todas:

Horrível, certo?

Talvez. Convido-os a pensar por um outro lado.
O que nós dizemos, hoje, de versões como essas, é a mesma coisa que costumavam falar sobre o Led Zeppelin, quando se apropriou de várias canções do Willie Dixon, um fantástico compositor de blues – praticamente anônimo, quando comparado àqueles que tocaram suas músicas.

Link YouTube | Mal consigo imaginar os puristas do blues xingando isso, mas acontecia
Dentro da própria cultura musical do blues, isto era algo muito comum de acontecer. Na época em que o rádio dominava, era a música que importava. Os artistas dificilmente tinham seus rostos conhecidos e acabava ocorrendo destas canções serem transmitidas por rodas de trabalhadores braçais tocando violão juntos. Uns mostravam canções aos outros tocando, na marra, coisas que algumas vezes só tiveram uma única chance de ouvir. Agradeça pelo iPod que você tem agora.
Muitos de nós, incluindo eu, dificilmente conheceríamos peças musicais maravilhosas se não fossem as versões. E é interessantíssimo como muita coisa penetrou na nossa cultura através deste recurso. Ou vocês nunca ouviram aquelas clássicas versões em português dos Beatles, cantadas pelo pessoal da Jovem Guarda?
Não é sensacional a ideia de que uma canção pode ter tanto poder sobre as pessoas que consegue penetrar mundos e vidas tão distantes do contexto original onde ela foi composta?
Eu, no lugar do Kurt Cobain ou dos que sobraram do Pink Floyd, estaria exultante de felicidade. Talvez não pela versão em si, mas pelo fato de que, talvez, a maioria das pessoas ali, presentes, ouvindo e cantando uma versão distorcida da canção, sequer soubesse quem eram os autores originais. Imagine ser o criador de algo com tanto poder que consegue falar por si só, sem a necessidade da sua presença como emissor daquela mensagem?
Hoje, ouvindo essas regravações, penso que, na pior das hipóteses, pelo menos as pessoas ainda estão ouvindo essas músicas. Ruim será no dia em que nem isso mais acontecer.

via papo de homem

Posted by Paulo Studio 2002 @ quinta-feira, 14 de abril de 2011 0 comments

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