Com churrasco e trova, gaúchos celebram tradição em acampamento

Se os bisavôs de João Carlos do Couto, 49 anos, estivessem vivos, sentiriam orgulho de vê-lo seguindo à risca o ritual de churrasco transmitido pelas gerações da sua família. Antes de amanhecer, ele já colocava a carne no fogo e explicava que iria servi-la nove horas depois. "Com calma, à moda antiga, como faziam meus avôs, que aprenderam com os pais deles. Enquanto isso, podemos beber e conversar com os amigos", diz ele no Acampamento Farroupilha, em Porto Alegre (RS), onde Couto e milhares de gaúchos se reuniram nos últimos 13 dias para celebrar as tradições do Estado. A comemoração chega ao ponto alto nesta terça-feira, data oficial do feriado, com os desfiles da Revolução Farroupilha.
Em mais de 370 galpões levantados em 65 hectares no parque Harmonia, região central da capital, a dança, música, comida e outras manifestações culturais gaúchas são apresentadas para um público total estimado em 1 milhão de pessoas. Desde o dia 7 de setembro, elas circulam no espaço que, a partir de 1987, tornou-se referência para quem admira e deseja conhecer melhor a história do Rio Grande do Sul e seu povo.
"Tudo começou com um grupo de algumas dezenas de tradicionalistas. Eles acampavam com barracas e iam atraindo mais adeptos, até que chegamos ao nível de hoje. Reproduzimos aqui a vida do interior do Estado. As comemorações nos enchem de orgulho, estamos propagando nossa cultura", explica Celso Dimas, 50 anos, participante da primeira edição do evento.
"Revivemos no Acampamento Farroupilha os valores que os nossos pais passaram para a gente, como hospitalidade, companheirismo e coleguismo. Aqui firmamos amizades, ouvimos as histórias de vida dos outros e buscamos os tempos que já passaram. Temos saudades de uma época mais calma, quando as pessoas gostavam de conversar e eram desaceleradas", afirma Celso Garcia, 46 anos.
Além dos galpões, o acampamento disponibiliza um espaço para comércio de produtos locais e uma área gastronômica de pratos típicos. Com entrada franca, os visitantes podem ainda participar de oficinas e assistir exposições, festivais de coreografia e provas de laço de animais, coordenadas pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG).

Contadores de histórias

Quem circula pelas ruelas do acampamento é convidado a entrar nos galpões e puxar um banco, pois as histórias são longas e divertidas. "Uma vez, eu presenciei um 'cego' que tentava se apresentar no palco de shows. Ele queria um destaque e vantagens, mas depois descobrimos que ele não era cego. Nem preciso dizer que o sujeito levou um 'chá de casca de vaca' (surra)", conta Albeni Carmo de Oliveira, 61 anos.
Responsável pela rádio interna do parque, ele se intitula um trovador, ao estilo repentista. "Esses dias chegou um cidadão chorando aqui, querendo que eu anunciasse que ele tinha perdido a sogra. Eu disse que ou ele gostava muito dela, ou ela bancava tudo", diverte-se. O visitante mais extrovertido pode até mesmo pedir uma trova personalizada, como a que o Terra ganhou do músico e gaiteiro Gaúcho Fontana.
"Eu sou Gaúcho Fontana, que entende de repente; o seu Albeni falou que aqui circula muita gente; pessoas que vêm de fora pra conhecer o batente; do nosso Rio Grande amado porque é muito inteligente; por quê é muito inteligente, quantos bites tem um byte? Na hora do computador, faço um verso para este site".

Protesto por royalties

Durante os desfiles, está previsto o início de um movimento em defesa da justa distribuição dos royalties do petróleo brasileiro, para que "atenda aos interesses dos Estados de maneira igualitária e equilibrada", segundo o governo do Rio Grande do Sul, que organiza o ato com o objetivo de mobilizar a sociedade gaúcha.
A tribuna das autoridades terá faixas e banners com slogans como "O petróleo é de todos os brasileiros" e "Pela justa distribuição do pré-sal". Fitas e adesivos com mensagens de apoio a um novo modelo de divisão dos recursos serão distribuídos e, após o desfile, o governador Tarso Genro (PT) e outras autoridades oficializam o ato no Acampamento Farroupilha.
A mobilização ocorre no mesmo dia previsto para uma definição do governo federal sobre a proposta final de divisão dos royalties do petróleo do pré-sal. Hoje, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se reunirá ministros e líderes partidários do Senado para uma rodada final de discussão. A última proposta do governo, apresentada em 14 de setembro, prevê que a parcela da União nos royalties cairia de 30% para 20% a partir de 2012.

A Revolução Farroupilha

A Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha foi um levante regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e que resultou na declaração de independência da província como Estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense. Ele estendeu-se de 1º de março de 1835 a 20 de setembro de 1845.
O termo farrapo era considerado originalmente pejorativo, sendo utilizado pelo menos uma década antes da Guerra dos Farrapos para designar os opositores ao governo central. O termo com o tempo foi adotado pelos próprios revolucionários.

Posted by Viviani Corrêa @ terça-feira, 20 de setembro de 2011 0 comments

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