Daniela Mercury lança disco e elogia 'sertanejo pós-axé' de Luan Santana

"Rainha do axé" é a expressão geralmente usada para falar de Daniela Merucry. Mas a cantora de 46 anos tem um adjetivo melhor para definir sua capacidade de concatenar ideias. "Eu sou pensadeira, componho e penso sobre tudo", diz ela.
Daniela encadeia raciocínios sobre os 20 anos do disco "O canto da cidade"; o novo CD-DVD "Canibália - Ritmos do Brasil"; o Carnaval; e o "sertanejo pós-axé" de Luan Santana.

'O canto da cidade' vai completar 20 anos em março. Você já deixou a faixa-título de fora de algum show? O significado mudou muito depois de tanto tempo?
Daniela Mercury -
Cada hora tem um significado diferente. Antes era celebrando a democracia. Hoje é um canto de afirmação do Brasil. Ela sempre foi uma canção afetiva. As pessoas se emocionam. Ela me traz alegrias e força. É visceral, diz o que signifco. Ela era bis nesse show. Depois dos primeiros anos, nunca mais ficou no corpo do show. É inevitável que seja o encerramento. Quando precisa, ela está ali esperando que a convide para o "grand finale".

Como vê a influência do axé em hits sertanejos, antes quase sempre românticos, mas hoje dançantes?
Daniela Mercury -
As novas gerações aprenderam que a diversidade está aí. O axé fez isso com uma geração que misturou todo tipo de gênero. Minha geração é a encarnação do desejo do movimento antropofágico. É um gênero brasileiro, rítmico. O olhar do Brasil sobre si é de um país de ritmos. A Bahia se espalhou pelo Brasil, como berço da africanidade, um dos berços do samba. O Brasil gosta de festa, para compensar a realidade dura. Eles são os sertanejos pós-axé, são mais vibrantes, canibalistas, engolem tudo o que conheceram. É o Brasil da praia e do campo; do interior e do litoral. A música do Luan [Santana] é assim. É um sonho de Brasília se realizando. É quebrar fronteiras e se ver mais com um país de todas as influências.

Como foi a ideia do dueto virtual com Carmen Miranda?
Daniela Mercury -
Tive vontade, no disco "Canibália" [de 2009], de gravar "O que que a baiana tem?". Comecei a ver arranjos. Percebi que encaixava no twist. Dei pulos de felicidade. Cantamos no mesmo tom. Eu queria fazer esse dueto mais "concretamente". Foi difícil segurar a emoção para não chorar. Eu grito "Rio de Janeiro! A Carmen está de volta na sua terra".

Você pensa antes em frases como essa ou cria na hora?
Daniela Mercury -
Eu sou muito pensadeira, componho e penso sobre tudo. Eu escrevo sobre o mundo, sobre a minha arte. Os textos completam as canções, que são metáforas. Eu fico pensando no roteiro do show e imaginando a emoção de cada canção, pensando o que quero dizer. Os textos saem de forma espontânea, não decoro. Eles mudam durante a turnê e vão se firmando. Não é de uma maneira racional. Eu reflito, mas não é um texto pré-definido.


Ter a participação da Unidos da Tijuca, do Boi Bumbá Garantido e depois reunir as duas juntas no mesmo palco foi algo que deu certo de cara ou deu trabalho?
Daniela Mercury - Sou bailarina, fico tentando arrumar a casa. Foi um ensaio muito rápido, no mesmo dia. Fizemos ensaios de percussão fora do palco, antes. Os meninos do AfroReggae foram muito disciplinados. Aconteceram passagens das mulatas de forma improvisada. Elas iam para frente, eu ia para trás. Escolhi dois sambas-exaltação, "Quero ver o mundo sambar" e "Vide gal". Eu me dou bem com percussões seja de onde forem. Eu sou íntima dos tambores. Não é difícil lidar com sambistas.
Você está acostumada a cantar para multidões, em trios elétricos e em palcos. Quais as diferenças?
Daniela Mercury -
Meu trio elétrico é um palco, com 80 metros quadrados. Eu uso a parte rítima com dança, gosto de ser bailarina. Palco e trio se aproximaram. Eu consigo me comunicar com massas por isso. O trio me deu a vivência de dominar multidões. A conexão não se perde. O trio é um palco que anda, é uma caixinha de música com esse encantamento. Quando não posso andar com o palco, faço andarem como se estivessem no trio. Aprendi a ser maestro de multidão. Fica o desafio para fazer que se movimentem fluidamente como se o palco movesse.

Estando lá em cima, você tem uma visão privilegiada. Acontece de você ver algo acontecendo na multidão e não ter como interferir?
Daniela Mercury -
A minha energia é tão positiva que eu tive pouquíssimas experiências de parar show. Eu fico monitorando, se percebo a confusão eu mudo o ritmo. Eu vou administrando a avenida, conheço os pedaços perigosos, quando ficam mais apertados. Quando acontece algum tumulto, paro imediatamente. Faço advertências, chamo a polícia, peço calma. Eu já fiz até greve de silêncio em Salvador. Era uma turminha de moleques que gostava de confusão, no Morro do Cristo, há alguns anos. Pedi licença ao público, passei dez minutos por dia sem tocar. Dentro do possível, sou uma educadora. Carnaval é um exercício de convivência.

Posted by Viviani Corrêa @ terça-feira, 20 de dezembro de 2011 0 comments

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