'Raul Seixas morreu de amor', diz diretor de documentário

Raul Seixas teve muitas mulheres, como mostra o documentário “Raul: o início, o fim e o meio”, de Walter Carvalho, que estreia no próximo dia 23 nos cinemas. A primeira, no entanto, Edith, que se recusou a aparecer no filme, é considerada por amigos e familiares do músico o grande amor de sua vida e até, para alguns, a causa da entrega ao alcoolismo, vício que ajudou a matá-lo precocemente, aos 44 anos, vítima de uma pancreatite em consequência da diabete, em 1989.

“O Raul morreu por amor. De uma paixão pela Edith. Ele 'marcou uma touca' lá no início e achou que poderia resolver quando quisesse. E nunca mais ele conseguiu chegar perto. Ela foi embora com a filha (Simone) e ele nunca mais a viu”, conta o diretor de “Janela de alma” (2001) e “Cazuza – O tempo não para” (2004), em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (14), no Centro do Rio de Janeiro.

Raul conhecia Edith desde a adolescência e se casou com ela aos 23 anos, após completar o segundo grau, fazer cursinho e passar na faculdade só para convencer o pai da moça, um pastor protestante americano, a permitir que ficassem juntos. A “farsa”, segundo os amigos de infância de Salvador, deu certo e o sogro foi convencido. Sete anos depois, no entanto, após acompanhar o amigo e parceiro Paulo Coelho no exílio político em Nova York, e estourar no Brasil com o álbum “Gita”, viu sua mulher ir embora e levar a filha do casal para os Estados Unidos.

Simone aparece no longa e diz, em inglês, que não sente nada pelo pai e que não o conheceu. Ainda lê, via Skype, uma carta de Edith, na qual diz que não dá entrevistas sobre Raul porque são lembranças que a fazem mal e que ela está “feliz e envelhecendo ao lado do homem que ama”.

O artista teve outras quatro mulheres marcantes, todas presentes no documentário: Gloria Vaquer (irmã de Jay Vaquer), Tania Menna Barreto, Kika Seixas e, por fim, Lena Coutinho, de quem se separou um ano antes de morrer. Teve ainda três filhas mulheres: Simone; Scarlet, que também foi morar nos EUA com a mãe, Gloria; e Vânia, de Kika, a única que mora no Brasil. Diante de tantas trocas de companheiras, é impossível não perguntar: Raul era mulherengo?

“Só quando estava no final da relação”, diz o amigo Sylvio Passos. “Ou então quando estava bêbado, doidão. Aí o que caía na rede era peixe”, completa, com um detalhe revelador para um personagem que começou a beber antes por volta dos 13 anos e nunca mais parou.

Fundador e presidente do fã-clube Raul Rock Club, Sylvio, no entanto, concorda com Walter Carvalho sobre a paixão eterna do cantor. “Fiquei nove anos convivendo com o Raul e ouvindo ele falar da Edith. Ele tinha uns rolinhos de Super 8 em que apareciam Edith e Simone, e chorava feito criança toda vez que assistia”, lembra.

Parcerias

Se teve várias musas, Raul também teve seus parceiros, como Paulo Coelho, com quem mantinha uma relação quase como um casamento: “Tinha tudo, menos o sexo”, conta no longa o hoje escritor, coautor de grandes sucessos como “Sociedade alternativa”, “Gita”, “Há dez mil anos atrás” e “Tente outra vez”.
Até com Paulo, porém, a relação teve um rompimento. Por mais de dez anos, se “separaram”. O reencontro foi no palco do Canecão, na turnê que Raul fez com Marcelo Nova, a última da vida do músico, em 1989. Com a carreira literária de vento em popa e morando na Suíça, o escritor quase fica de fora do documentário.

“Já tinha pensado em fazer o filme sem o Paulo, o que seria uma perda irreparável. Mas o Feijão (Denis, produtor) não desistiu. Um dia, o Multishow exibiu um especial dos 20 anos da morte do Raul, e o Sylvio (Passos) disse que eu estava fazendo um trabalho sério. O Paulo por acaso vê, pega o telefone, liga para o Feijão e diz que pode falar comigo.”

Na entrevista, uma coincidência caiu como uma luva para retratar uma relação cheia de misticismo e com uma certa rivalidade. Uma mosca, imortalizada por Raul em “Mosca na sopa”, ronda e pousa em Paulo Coelho por várias vezes. Após dizer que não vai matar e até chamá-la de Raul, ele não resiste e dá um tapa no inseto, antes de sorrir.

Arquivos

Os arquivos foram colhidos em televisão, jornal, cinejornal e filmes de família. A imagem mais antiga em movimento é de Raul garoto, com menos de 20 anos, comprando cigarro na Bahia, sua terra natal.

De 2009 a 2010, a equipe entrevistou 94 pessoas, entre amigos e familiares, mas 44 foram cortadas na edição final, restando 50. Com mais de 400 horas de material, o diretor levou um ano e seis meses para montar o filme. Entre os famosos, estão, Paulo Coelho, amigo, principal parceiro e por ano desafeto de Raul; além de Caetano Veloso, Tom Zé, Zé Ramalho, Pedro Bial e Roberto Menescal, entre outros.

“Hoje em dia a grande maioria dos que surgem são artistas fabricados. Na época do Raul, que é a época do Caetano, do Gil, do Chico, do Geraldo Vandré, era ao contrário. A prova disso é que hoje muitos não duram tanto. Ele era um artista irreverente, um compositor, um artista de palco, um tipo de artista que não acontece mais”, define Walter Carvalho.

Posted by Viviani Corrêa @ quinta-feira, 15 de março de 2012 0 comments

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