Músicos transformam Weezer, Daft Punk e até Miles Davis em 'trilha de videogame'

Adeptos do chiptune usam consoles e emuladores para recriar faixas.
Versão retrô para clássico de jazz será lançada em 17 de agosto.

Diego Assis Do G1, em São Paulo

Pixel arte da capa do disco 'Kind of bloop', versão chiptune do clássico de Miles Davis 'Kind of blue' (Foto: SnackAdmiral/Divulgação)

O tributo pode soar como heresia aos ouvidos puristas dos amantes do jazz: "Kind of blue", provavelmente a maior obra-prima do gênero, gravada em 1959 por craques como Miles Davis e John Coltrane, está ganhando uma nova edição comemorativa. Só que, desta vez, para os fãs da geração videogame.

Releitura das cinco faixas do clássico absoluto de Davis, "Kind of bloop" - o nome é uma brincadeira com os blips e blops que saíam dos games da década de 80 e 90 - reúne alguns dos principais nomes de uma cena que ficou conhecida como chiptune, formada por músicos e DJs ligados em tecnologia que resolveram transformar seus antigos consoles e computadores em instrumentos de composição musical.

A sonoridade retrô, facilmente reconhecida por qualquer um que já tenha jogado "Super Mario Bros." ou "Sonic" na vida, é uma das principais características das faixas do chiptune. A outra é a paixão dos participantes pela cultura dos games.

"Por ter crescido com o [computador] Commodore 64, o NES [console de 8-bits da Nintendo] e a cena de 'mods' dos jogos de PC, sempre fui fã dessa estética do chiptune", explica Andy Vaio, idealizador do projeto "Kind of bloop". "Durante anos eu imaginei como o jazz soaria em chiptune. Clássicos do jazz, revistos sob as lentes da era dos 8-bits. Mas depois de toneladas de pesquisas, só consegui achar três faixas."

A solução foi correr atrás de parceiros que topassem o desafio de transformar o sonho em realidade. Escolheu os músicos entre a nata do chiptune e, através de um site chamado Kickstarter, do qual é um dos empregados, Vaio resolveu
convocar os internautas para financiar o projeto. Para lançar o disco - que sairá em versão MP3 e física em 17 de agosto - e pagar os direitos autorais das faixas originais, Vaio calculou que precisaria de US$ 2.000.

"Conseguimos os US$ 2.000 em quatro horas. Fiquei de queixo caído", revela o empreendedor, que pretende usar o restante do dinheiro para pagar a impressão e envio dos CDs e pagar os artistas. A um dia do encerramento do prazo para ajudar a financiar o projeto, marcado para este sábado (1º), seu "Kind of bloop" já acumula mais de US$ 8.000. "Não vou ficar com nada", promete Vaio. 

 

Protótipo de capa da coletânea 'Weezer: The 8-bit album', do selo Pterodactyl Squad (Foto: Reprodução)

Weezer e Daft Punk 


Mas Miles Davis não é a única "vítima" das investidas dos aficcionados por games. Nas últimas semanas, pelo menos outros dois projetos de covers em chiptune (estes sem fins comerciais) foram lançados: "Weezer - The 8-bit album", uma coletânea de sucessos da banda de indie rock americana em versões retrô, e "DaChip", releitura no mesmo estilo de alguns hits da dupla de eletrônica Daft Punk.

"Weezer é a minha banda favorita e também ouço muito chiptunes, então esse disco era algo que eu queria desesperadamente ouvir", diz Ross Murdoch, um dos sócios do selo independente
Pterodactyl Squad, responsável pelo lançamento de "Weezer - The 8-bit album". O projeto - disponível para download gratuito no site - traz releituras de 14 canções pinçadas de diversos álbuns da banda, incluindo "Buddy Holly", "Hash pipe" e "El Scorcho". Todas soando como se fizessem parte da trilha de um jogo da "década perdida".

"Para mim, as músicas dos videogames velhos são as mais interessantes. Óbvio, ainda há música nos games de hoje, mas ela é basicamente idêntica às músicas que você encontra em um programa de TV ou em um filme", argumenta Joe Allen, o outro sócio do selo. "As trilhas dos jogos antigos, dos anos 80 e 90, tinham uma sonoridade diferenciada por causa dos chips de som que eram usados naqueles consoles", explica.

A forma de compor e executar as faixas em chiptune varia bastante de músico para músico. Há quem use o próprio hardware original para criar as músicas, como o portátil GameBoy, o Nintendo de 8-bits e os antigos computadores Commodore 64 e Amiga, e há aqueles que usam emuladores, programas de computador que simulam os chips de áudio desses mesmos aparelhos.

Boa parte dos programas utilizados é distribuida gratuitamente pela web. Instaláveis em qualquer PC, os softwares
FamiTracker e Schism Tracker, por exemplo, reproduzem os mesmos sons criados pelo videogame de 8-bits da Nintendo. Já os mais ousados, que utilizam o chip original dos equipamentos antigos para fazer suas chiptunes, geralmente adotam os softwares LSDJ, sigla para "Little Sound Disk Jockey", e Nanoloop, em um cartucho que transforma o GameBoy em instrumento musical. 

 
Foto: Reprodução Foto: Reprodução

Ilustração do projeto DaChip, que reúne versões de hits do Daft Punk tocadas com videogames (Foto: Reprodução)

Não é brincadeira


Parte da coletânea "DaChip", um dos adeptos da música de GameBoy é o francês Jules Concas, que atende pelo irônico nome artístico de Je Deviens DJ en 3 Jours - em português, eu me tornei DJ em 3 dias. É tão fácil assim?

"É totalmente o oposto. Quando comecei a me interessar por música eletrônica, fiquei chocado quando percebi que a maioria das pessoas sequer sabe o que é música. Então essa era uma piadinha interna dedicada à toda cena dos DJs, tipo 'ei, olhem para cá, eu também posso ser um DJ em 3 dias'", diverte-se. "Mas o engraçado é que usar o GameBoy é uma maneira realmente difícil para se fazer música. O DJ aperta 'play' e bebe a sua cerveja enquanto espera a próxima faixa. O músico de GameBoy tem de programar todos os instrumentos e pode ficar horas e horas em frente ao videogame até encontrar a resposta: 'como vou transpôr essa melodia que tenho na minha cabeça para apenas 4 canais?'".

"Acho incrível como eles conseguem trabalhar dentro das restrições e ainda assim continuar criando coisas novas e interessantes. As limitações parecem estimular a criatividade das pessoas", resume Andy Vaio, que, depois de "Kind of blue", já começa a imaginar como soaria uma versão em chiptune do clássico "Take five", do pianista Dave Brubeck.

Baterista da banda de "rock de 8-bits" Sphere of Chaos, além de co-produtor da coletânea em chiptune do Weezer, Allen sugere, no entanto, apertar o "pause" na onda de releituras de artistas e grupos do pop. "Acho que a música mais importante no chiptune são as composições originais, escritas pelos próprios artistas. Se os músicos desse tipo só fizessem covers é pouco provável que a comunidade chiptune estivesse tão interessante e vibrante como agora."

Membro do
8-bitcollective, um dos pioneiros do chiptune na internet, Jules Concas diz que já tem até "groupies" no estilo. "Meu conselho final para a molecada é: vá fazer música e esqueça os videogames. Exceto 'Animal crossing' [jogo fofinho da Nintendo], que vai ajudar bastante na hora de conseguiar as garotas", brinca.

via G1

 Studio 2002

Posted by @paulostudio2002 @ sexta-feira, 31 de julho de 2009 0 comments

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