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A vertente mais forte do Dia do Samba é a da visita de Ary Barroso a Salvador. Esse exemplo é bem interessante, pois se trata de um mineiro visitando a Bahia |
Cariocas e baianos dividem os louros da origem do gênero musical mais famoso do país, mas os mineiros provam que também são bambas
Hoje é o Dia Nacional do Samba, embora haja dúvidas sobre a origem da data. "Essa história é altamente controversa: uns falam que é por causa do aniversário de Pixinguinha, outros dizem que se trata do dia em que gravaram a música Pelo telefone. De qualquer forma, teoricamente, seriam mais de 90 anos de comemoração. Um lugar em que se festeja muito é na Bahia", conta Dudu Nicácio, compositor e agitador cultural. "Realmente, a vertente mais forte do Dia do Samba é a da visita de Ary Barroso a Salvador. Esse exemplo é bem interessante, pois se trata de um mineiro visitando a Bahia", celebra Dudu.
Em parceria com o carioca Rodrigo Braga, Dudu Nicácio mantém o projeto Dois no samba, que divulga o gênero musical mais famoso do país. "Ele tem se tornado muito forte em quase todas as regiões do Brasil. O Rio de Janeiro é onde isso se lança com mais visibilidade, mas a cena de São Paulo corre o risco de ser maior que a carioca", garante Dudu, que tem se apresentado em várias cidades do país.
O Dois no samba mantém bandas no Rio e em BH. "Em Belo Horizonte, há muita coisa legal. Você vê grupos muito bons, com qualidade, suingue, malemolência e cadenciado", diz.
A cantora mineira Janaína Moreno é prova disso. Um dos destaques do projeto Samba da madrugada, em cartaz há cinco anos na capital mineira, ela se mudou para o Rio de Janeiro há 18 meses. Recentemente, foi uma das três finalistas do Prêmio Divas da Música Brasileira. Mas não abandonou BH.
"Senti necessidade de expandir, de ver essa coisa da história e ancestralidade, comum no Rio de Janeiro. A maioria dos compositores vem se radicar no Rio por conta dessa oferta de produção que ocorre aqui", conta Janaína, por telefone.
"Os grandes mestres vivos residem aqui Moacyr Luz, Martinho da Vila, Nei Lopes. A história da música popular brasileira e do samba passa por nomes que estão no Rio de Janeiro. Então, vim curiosa e motivada por esse encontro", explica. A mineira foi muito bem recebida, aliás: tornou-se amiga do pesquisador e jornalista Sérgio Cabral e está gravando um disco, com lançamento previsto para o ano que vem.
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A mineira Janaína Moreno se mudou de BH para o Rio de Janeiro, mas não abandonou Minas |
VELHA GUARDAO Rio leva a fama, mas BH não fica para trás quando o assunto é samba. O sambista Geraldo Magnata se dedica ao ofício há 40 anos. "Houve muita transformação desde a época em que comecei. A gente é crioulo, faz samba de raiz, sofre preconceito. Mas até a rapaziada do pagode que não é do samba nos ajuda", conta Magnata. E esclarece: "Eles primam pela aparência física, estão no pagode, em vez da marginalidade, e fazem sucesso. Nós, que somos da resistência, temos nos emancipado. Contamos com um público maravilhoso, mas fazendo samba da antiga", diz, referindo-se às composições de Cartola, Ataulfo Alves e Nelson Cavaquinho.
Atualmente, Magnata faz shows solo, tem CD lançado e é puxador de bateria do grupo Bacharéis do Samba (sucesso em festas de formatura da cidade). Nascido e criado no Jardim Bairro Montanhês, ele comanda, há 15 anos, programa na Rádio Favela. "Aos sábados, das 14h às 16h, toco a rapaziada de BH", avisa ele.
Outro nome da velha guarda mineira é Serginho Divina Luz, sambista há 37 anos. "Sempre surgem novos compositores, trazendo influências muito boas", elogia. Há dois anos, ele abriu a própria casa e liberou o quintal para a galera fazer samba de raiz. "É até errado falar isto: a gente faz samba e o samba é a raiz. Procuramos a linha de Cartola, Noel Rosa, Chico Buarque e de Nelson Sargento", explica.
Divina Luz está criando, no próprio quintal, um centro cultural para a comunidade do Bairro São Marcos. Ele é quase unanimidade entre os bambas da capital, especialmente os que tocam nos limites da Avenida do Contorno: o Quintal Divina Luz é considerado excelente reduto, lugar de aprender as preciosas lições da velha guarda.
DIA NACIONAL DO SAMBA
CONFRATERNIZAÇÃO DOS SAMBISTAS DE MG
Hoje, a partir das 14h. Curral do Samba, Rua Maria Pietra Machado, 123, Bairro São Paulo. Festa organizada por Geraldo Magnata, Bira Favela e o presidente do Centro Mineiro de Cultura Comunitária, Reinaldo Avelar. Ingressos um brinquedo masculino ou feminino. Informações: (31) 3072-1682.
PEDRO MIRANDA E ZÉ DA GUIOMAR
Vinnil Cultura Bar, Rua Inconfidentes, 1.068, Savassi, (31) 3261-7057. Hoje, 22h30. Samba de raiz. Cantor e compositor carioca, Pedro Miranda é convidado especial do grupo mineiro Zé da Guiomar. R$ 12 (fem) e R$ 15 (masc).
AS CASAS DE BAMBAS
Cartola
Tradicional reduto de sambistas. Fundado em 1994, o bar prima pelo samba de raiz. l Rua Vila Rica, 1.168, Bairro Caiçara. Às sextas-feiras, só samba. Aos sábados, MPB e samba. Aos domingos, choro e samba. Couvert entre R$ 8 e R$ 15. Informações: (31) 3464-9778.
Gamboa
Aberto há duas semanas, o bar se dedica exclusivamente ao samba. Planeja trazer grandes nomes do Rio de Janeiro e divulgar os artistas locais. l Rua Sergipe, 1.236, Savassi. Preços, dias de funcionamento e atrações são variáveis. Informações: (31) 3282-2997.
Quintal Divina Luz
Casa de samba de raiz. Funciona no quintal da casa do sambista Serginho Divina Luz. l Rua Maria Aparecida, 375, Bairro São Marcos. Funciona aos domingos, das 15h às 21h30. Couvert: R$ 15. Informações: (31) 8775-9709. Só aceita dinheiro.
FIQUE SABENDO
Ocê no samba
Recentemente, três amigos apaixonados por samba criaram guia sobre o tema, exclusivamente voltado para BH. Para datas, atrações e informações acesse
www.ocenosamba.com.br
Utópica Marcenaria
A programação de quinta-feira se tornou tradicional na noite de BH. Atualmente, a atração fixa é a
banda Copo Lagoinha, expoente do samba mineiro. l Avenida Raja Gabáglia, 4.700, Bairro Santa Lúcia. Às quintas-feiras, a partir de 21h. Couvert: R$ 20. Informações: (31) 3296-2868.
Ziriguidum
Funciona três vezes por semana duas dedicadas ao forró. Sábado, abre as portas para os sambistas. O projeto Samba da madrugada foi criado para o público ter festa até a manhã de domingo e para os músicos poderem se encontrar, assistir aos shows dos amigos e dar canjas. Avenida Presidente Carlos Luz, 470, Bairro Caiçara. Aberto aos sábados, das 2h as 6h. R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia-entrada). Informações: (31)8756-1523.
via UAI