Archive for 08/21/09

Hoje, o Brasil relembra os 20 anos de morte de Raul Seixas. Agora, novos materiais a respeito do cantor devem ser lançados, incluindo uma faixa de 1974 que não passou pela censura mas, agora, foi produzida com a letra original, a partir de uma recuperação iniciada pelo produtor Marco Mazzola.

'Gospel', escrita pelo roqueiro em parceria com seu grande amigo e letrista Paulo Coelho, estava em uma K7, nas mãos do produtor, que chamou Frejat para modernizar os arranjos.

A música! :http://mtv.uol.com.br/lancamentos/ou%C3%A7-nova-m%C3%BAsica-de-raul-seixas

O video: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1269197-15605,00-OUCA+NA+INTEGRA+A+MUSICA+INEDITA+DE+RAUL+SEIXAS.html

A letra:

Gospel - Composição: Raul Seixas

Por que que o sol nasceu de novo e não amanheceu?
Por que que tanta honestidade no espaço se perdeu?
Por que que o Cristo não desceu lá do céu e o veneno só tem gosto de mel?
Por que que a água não matou a sede de quem bebeu?

Por que que eu passo a vida inteira com medo de morrer?
Por que que os sonhos foram feitos pra gente não viver?
Por que que a sala fica sempre arrumada se ela passa o dia inteiro fechada?
Por que que eu tenho a caneta e não consigo escrever? (Escrever)
Por que que existem as canções que ninguém quer cantar?
Por que que sempre a solidão vem junto com o luar?

Por que que aquele que você quer também já tem sempre ao teu lado outro alguém?
Por que que eu gasto tempo sempre sempre a perguntar? (A perguntar)

Por que que eu passo a vida inteira com medo de morrer?
Por que que os sonhos foram feitos pra gente não viver?
Por que que a sala fica sempre arrumada se ela passa o dia inteiro fechada?
Por que que eu tenho a caneta e não consigo escrever? (Escrever)

Por que que existem as canções que ninguém quer cantar?
Por que que sempre a solidão vem junto com o luar?
Por que que aquele que você quer também já tem sempre ao teu lado outro alguém?
Por que que eu gasto tempo sempre sempre a perguntar? (A perguntar)

Autor de 'Baú do Raul revirado' fala da importância do artista baiano.
Livro, peça e até passeata homenageiam 20 anos da morte do músico.

Do G1, em São Paulo

Sempre há uma canção de Raul Seixas para algum momento da vida. A conclusão é do jornalista Silvio Essinger, autor de "O baú do Raul revirado" (2005), uma reedição do material biográfico do músico baiano organizado por Tárik de Sousa em 1992. "Vinte anos depois de sua morte, a importância dele no cenário nacional continua forte", diz.

 

Ouça especial GloboRadio com músicas de Raul Seixas

 

Foto: Ivan Cardoso/Divulgação

Raul Seixas em foto de Ivan Cardoso à mostra no Museu Afro Brasil, em São Paulo. (Foto: Ivan Cardoso/Divulgação)

 

Gravado por bandas de rock como o De Falla ("Como vovó já dizia") à dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó ("Tente outra vez"), Raulzito passou a fazer mais sucesso depois de morto (no dia 21 de agosto de 1989), segundo Essinger. "Poucos artistas foram gravados por esse espectro todo da música brasileira. Ele ficou muito famoso no começo dos anos 70, mas comercialmente a coisa foi ladeira abaixo. Depois de morto, ele teve um sucesso que jamais poderia imaginar."

Para o especialista, o chamado rock brasileiro não teria essa cara hoje se não fosse por Raul Seixas. "Ele foi um dos arquitetos desse negócio. A composição dele tinha uma flexibilidade de conseguir incorporar vários estilos. O rock era sua obsessão, mas ele tinha o DNA da canção que ia desde a música brega ao baião até a canção americana. Raul usava o rock como ponto de partida para um artesanato da canção que poucos compositores brasileiros conseguiram."

 

 Foto: Ivan Cardoso/Divulgação Foto: Ivan Cardoso/Divulgação

Raul Seixas em foto de Ivan Cardoso. (Foto: Ivan Cardoso/Divulgação)

"Vale falar ainda do sensacional humor que ele tinha, além de uma inquietação filosófica e mística, que ele dividiu com Paulo Coelho."

 

Essinger cita a letra de "As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor" para ilustrar o tipo de humor do artista: "Buliram muito com o planeta / E o planeta como um cachorro eu vejo / Se ele já não aguenta mais as pulgas / Se livra delas num sacolejo".

 

"Tudo o que o Al Gore quis dizer foi resumido em quatro versos", observa Essinger. "Raul usa a linguagem do cordel, do repente, em uma música que é um rock. A genialidade dele está aí. O músico também radiografou muito bem a classe média nos anos Médici em 'Ouro de tolo'." 

 

Segundo o autor, Raul Seixas surpreendeu até mesmo na época em que ele era considerado ultrapassado. "Quando achavam que estava decadente, ele surge com o 'Carimbador maluco', uma canção infantil que tem um texto altamente filosófico. Muita gente conheceu Raul Seixas nessa fase." 

 

Raulzito vive



Um livro, uma exposição, uma peça de teatro e até uma passeata em São Paulo homenageiam os 20 anos da morte do roqueiro baiano. Nesta sexta (21), cerca de 20 mil fãs são esperados por volta das 13h em frente ao Teatro Municipal, no Centro da cidade. De lá, a passeata segue em direção à Catedral da Sé, às 18h, passando pelo Viaduto do Chá. 

 

Com lançamento marcado para sábado (22) na Galeria do Rock, o livro "Metamorfose ambulante" (editora B&A) - escrito por Mário Lucena, Laura Kohan e Igor Zinza, com coordenação de Sylvio Passos, presidente do fã-clube do cantor - promete revelar "um Raul Seixas que o público não conheceu". 

 Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Cena da peça teatral 'À espera do trem das 7', de Samuel Luna. (Foto: Divulgação)

Já a peça "À espera do trem das 7", escrita e encenada pelo ator pernambucano Samuel Luna, fica em cartaz de 19 a 23 de agosto no Teatro Commune, na capital paulista. O espetáculo se passa entre a hora da morte de Raul Seixas e o momento em que seu corpo foi encontrado. Coincidência ou não, o trem ao qual a letra se refere simboliza a morte. No palco, Luna, que também é músico, conta com a participação ao vivo do pianista Leornado Siqueira.

O Maluco Beleza também será lembrado na exposição "O prisioneiro do rock", ensaio fotográfico feito pelo "mestre do terrir" Ivan Cardoso. Em cartaz até 27 de setembro no Museu Afro Brasil, a mostra apresenta 21 fotografias em grande formato (originais em branco e preto) e nove montagens com intervenções coloridas, além de capas de discos e livros sobre o artista.

 

No domingo (23), o sósia Paulo Mano participa do show Toca Raul!, no Sesc Santo André. No tributo, ele se apresenta acompanhado da Banda Novo Aeon.

 

Passeata

Quando: sexta (21), a partir das 13

Onde: em frente ao Teatro Municipal, Centro de São Paulo

 

Lançamento do livro "Metamorfose ambulante"

Quando: sábado (22), às 13h

Onde: Galeria do Rock, Centro

Preço do livro: R$ 29,90

 

Exposição "O prisioneiro do rock"

Quando: De 21 de agosto a 27 de setembro (terça a domingo, das 10h às 18h, entrada até as 17h)

Onde: Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, tel. (11) 5579-0593

Quanto: grátis

 

Show Toca Raul!

Quando: Domingo (23), às 16h

Onde: Sesc Santo André, R. Tamarutaca, 302, tel. (11) 4469-1200

Quanto: grátis

 

Peça "À espera do trem das 7"

Quando: Dias 19, 20 e 21, às 21h / Dia 22, às 18h / Dia 23 às 16h 
Onde: Teatro Commune, Rua da Consolação, 1.218, tel. (11) 3476-0792

Quanto: R$ 30

Artista viveu um affair com a cantora: 'ela tinha um jeito de interior'.
Serguei acaba de relançar álbum com músicas censuradas nos EUA.

Do G1, em São Paulo

Considerado o roqueiro mais antigo do Brasil, Serguei é tão lembrado pelo romance com a cantora americana Janis Joplin nos anos 70 quanto pelo seu estilo psicodélico. Insatisfeito na juventude, foi morar nos Estados Unidos, onde gravou, entre 1966 e 1967, "Eu não volto mais", "Maria Antonieta sem bolinhos", "Sou psicodélico" e "As alucinações de Serguei". Em sua temporada por lá, conta que também viveu seus "três dias de paz e música" em Woodstock, de 15 a 17 de agosto de 1969. 

 

Foto: Alexandre Durão / G1

Serguei ficou famoso por ter tido um caso com a cantora Janis Joplin. (Foto: Alexandre Durão / G1)

 

De volta ao país depois de duas décadas, Serguei se estabeleceu em Saquarema, no litoral do Rio de Janeiro, e virou ícone fashion há alguns anos, quando desfilou pela grife Cavalera usando a camiseta "Eu comi a Janis Joplin". Hoje com 75 anos, Sérgio Augusto Bustamante (nome verdadeiro) não perdeu a atitude rock 'n' roll. Ele acaba de lançar com a banda Pandemonium o disco "Bom selvagem", reunindo músicas que foram censuradas nos Estados Unidos, agora com novos arranjos. E continua a receber centenas de visitantes em sua casa, batizada de Templo do Rock.

 


"Não mate as emoções senão você vira um morto-vivo", brada Serguei, do outro lado da linha, em entrevista ao G1. A conversa teve de ser interrompida algumas vezes devido à queda de eletricidade por causa da ventania em sua região. "Tem de olhar as pessoas nos olhos. Um aperto de mão, um olhar, uma frase, um sorriso e pronto, as pessoas estão se amando. Eu não entendo nada do que está acontecendo, então fico aqui dentro do Templo do Rock. Aqui eu ainda vivo em 1964."

 

O roqueiro afirma que foi a Woodstock acompanhado de alguns vizinhos. "Eu estava saindo da prisão, em liberdade condicional, tinha 36 anos na época. Tomei banho de lama, tudo igual a todo mundo. Transei com um garotão no meio da mata. O cara era muito louco. Respeito é algo que não existe mais, principalmente no Brasil", diz.

 

Mas as recordações do lendário festival hippie parecem se limitar e essas poucas imagens. Porque, quando o assunto é show, Serguei só consegue enumerar apresentações assistidas em outras oportunidades.

 

"Fui ver uma apresentação do Black Sabbath, de repente tinha um dragão no meio do palco e de dentro da boca dele saíram os integrantes do Led Zeppelin. Coisa de americano... O Brasil perdeu o glamour. A Califórnia não é mais como nos anos 60, mas ainda tem um certo glamour. Depois de Woodstock, vi ainda Rolling Stones, New York Dolls, Peter Tosh."

 Foto: Alexandre Durão / G1 Foto: Alexandre Durão / G1

O roqueiro na entrada do Templo do Rock. (Foto: Alexandre Durão / G1)

'Janis tinha um jeito de interior'

Foi durante a sua temporada nos EUA que Serguei diz ter conhecido a cantora Janis Joplin, com quem teria vivido um romance. "Fomos apresentados por um amigo chamado Aldir Oliveira. Não percebi que era ela de primeira, foi ele que me avisou. Ela estava com aquele cabelão de hippie, enorme. Ela tinha um jeito de interior. Até hoje esse tipo de gente me fascina. Ela tinha um sorriso assim, meio sem graça. Às vezes, punha um salto e ficava maior do que eu. Um dia saiu pelada do chuveiro e me disse 'Serguei, ninguém joga comigo, entendeu?'. Realmente, ela só fazia o que tinha vontade."

E o pioneiro que já usava batom roxo nos anos 50 continua surpreendendo – desta vez, ao falar de seus gostos musicais. "Meus ídolos são Mick Jagger e Diogo Nogueira. Ele tem a voz do pai. Ele vira a minha cabeça, que loucura, ele tem uma pegada que ninguém tem."

 

E prossegue: "eu sou incorrompido em termos de rock 'n' roll, jamais gravei alguma coisa que não fosse isso. Tenho mais de 40 anos de carreira, mas já fazia parte do movimento beatnik, antes do movimento hippie. Foi uma revolução contra os princípios muito chatos da década de 50. Minha mãe também era revolucionária, tenho a quem puxar."

Related Posts with Thumbnails