O Youtube é uma bênção. Há cerca de dois anos, recebi de alguém o link de um vídeo chamado "Playing for change", onde pessoas do mundo todo tocavam a mesma música. Era de uma simplicidade ímpar, porém jamais alguém havia pensado naquilo. O engenheiro de som Mark Johnson declara ter concebido a ideia ao perceber que a melhor música que ele absorvia no seu dia a dia era ouvida nas ruas, vinda dos artistas anônimos que ele encontrava no caminho para o estúdio onde trabalhava em Nova York. Decidiu, então, sair pelos EUA em busca de material para um documentário, quando se deparou com Roger Ridley, artista de rua, cantando e tocando "Stand by me" (clássico imortalizado na voz de John Lennon) nas ruas de Santa Monica, Califórnia. Mark não teve dúvidas: montou seu equipamento ali mesmo e gravou a canção. Com esta gravação e um estúdio móvel na bagagem, saiu rodando o mundo atrás de músicos de rua, e quando os encontrava, montava a parafernália e pedia para o artista gravar sua participação sobre a base original, de Ridley. O resultado é fantástico e emocionante. Um dos grandes momentos é a participação do cantor Grandpa Elliot, um senhor deficiente visual que canta e toca gaita nas ruas de Nova Orleans. Depois do projeto, Grandpa chegou a gravar um CD solo. A gravação conta inclusive com um brasileiro, o cavaquinista Cesar Pope, encontrado por Mark nas ruas de Barcelona.
O vídeo, que teve a participação de 35 músicos de todo o mundo e foi assistido por mais de 32 milhões de pessoas até hoje, acabou gerando vários frutos. O sucesso imediato alavancou a gravação de um CD/DVD chamado "Songs around the world", que recebeu a participação de artistas consagrados, como Bono e Manu Chao. Além de "Stand by me", entraram no CD canções que falavam essencialmente de amor, paz e tolerância, como "One love", de Bob Marley, "Biko", de Peter Gabriel, e "Talkin' bout a revolution", de Tracy Chapman. Mark também criou sete unidades da Playing for Change Foundation, uma fundação de apoio ao aprendizado musical em comunidades carentes de locais como Kigali, em Ruanda, e Katmandu, no Nepal.
Hoje, dois anos após aparecerem para o mundo, alguns dos músicos que participaram das gravações fazem turnês com o nome de Playing for Change Band e estiveram recentemente no Brasil para três apresentações: em Belo Horizonte, São Paulo e Paraty, no Bourbon Festival. A iniciativa dos shows é excelente para a propagação do trabalho, porém a grande magia da ideia de Mark Johnson foi unir em uma gravação brancos, índios e negros, católicos, budistas ou muçulmanos, para captar a essência de sua arte dentro de seus próprios ambientes. Apreciem:
fonte SRDZ