Archive for 05/02/12
Quem não passou a década de 80 cantando “não está sendo fáááááácil”
junto com Kátia? A cantora, que foi apadrinhada por Roberto Carlos (o
cantor é amigo de infância do pai dela), emplacou sucessos como
“Qualquer jeito” e “Lembranças” e chegou a vender um milhão de discos,
decidiu dar uma freada na carreira em meados dos anos 1990, mas agora
voltou a fazer shows, principalmente pelo Norte e Nordeste do país.
“Parei por iniciativa própria, para me dedicar a projetos para
deficientes visuais. No início, continuei cantando, mas com o tempo vi
que os projetos precisavam de mais dedicação”, conta ela, que neste
período também se formou em radialismo. “Nunca me afastei da mídia, a
mídia é que se afastou de mim. Mas também não tenho esse negócio de
mágoa."
Há quase 20 anos Kátia divulga e é a voz de programas de computadores
para deficientes visuais. “Me apaixonei pela causa, nada como sentir na
pele as necessidades. Antes não havia nada parecido desenvolvido no
Brasil”, comenta. Com o programa, que transforma em áudio tudo que está
no computador, Kátia passou a ficar boa parte do dia navegando na
internet. Consulta notícias, troca emails com amigos e usa o Twitter.
Também tem o hábito de comprar livros e escaneá-los, para que o
computador os “leia” para ela.
Para sair à rua, tem a ajuda de Lurdinha, sua acompanhante há mais de
10 anos. Já teve um cão-guia, a cachorra Ene, até que ela morreu. “Não
tenho problema em sair só, mas é mais fácil com alguém ao lado”,
justifica Kátia, que mora em apartamento próprio no bairro do Grajaú, na
Zona Norte do Rio.
A cegueira da cantora aconteceu após complicações no parto. Ela nasceu
no sexto mês de gestação e pesando apenas um quilo. “Minha primeira luta
foi para viver”, conta. Até os 16 anos, ainda conseguia ver raios de
luz. “Conheci o sol, mas hoje é só a escuridão”, conta. ”Mas não sinto
falta porque não perdi a visão, já nasci sem ela. Sou muito
bem-resolvida com a minha realidade. Vejo tudo por dentro”, comenta.
“Aprendi a levar a vida numa boa, como a minha família me ensinou. Nunca
houve lamentação lá em casa, mas sim muita força de vontade”, diz a
cantora, que só não gosta quando a chamam de Kátia Cega. “Se referir a
uma pessoa pela sua deficiência é de muito mau gosto. Mas o problema é
de quem fala, não é meu. Não me sinto ofendida por ser cega.”
Amizade com Roberto Carlos
Vaidosa, Kátia não revela a idade por nada. “Sou mais velha que ontem e mais nova que amanhã. O espírito não envelhece”, desconversa. Para posar para o EGO em um shopping do Rio, fez escova nos cabelos, pintou as unhas e, como sempre, manteve os óculos escuros. “Tenho uma coleção, mais de 50 pares”, conta Kátia, que escolhe as próprias roupas. “Passo a mão, sinto, pergunto a cor. Sou exigente.”
Dos tempos de sucesso, quando frequentava programas de auditório e
tinha as músicas tocadas nas rádios, ela diz que não sente falta. “Não
sinto nostalgia”, garante. Kátia acha que deixou de ser assunto porque
não lançou mais discos, o que pretende fazer em breve. “Estar no rádio e
na TV é consequência de um novo trabalho. Se eu lançar um CD, isso pode
voltar a acontecer. Já tenho algumas ideias”, acredita ela, que
atualmente curte o trabalho de Jorge Vercilo, Ana Carolina e Belo. "Mas
as obras de hoje não ficam para o futuro, como acontecia com as canções
dos anos 80."
O que mantém desde aquela época é a amizade com Roberto Carlos. “Ele é
meu leme, meu conselheiro”, diz. Kátia nega ter ido além da amizade com o
Rei. “É uma viagem quem insinua qualquer coisa. Nunca teve nem essa
história de amor platônico. Conheço o Roberto Carlos desde que eu tinha
quatro anos de idade. Cresci amando o trabalho dele e devo toda minha
carreira a ele.”