Archive for 04/14/11


Boa parte das resenhas que li dos shows do U2 em São Paulo apresentava uma lacuna gritante: falavam só da música e ignoravam o aparato visual do espetáculo.
É um pouco como resenhar Velozes e Furiosos e só analisar a história e as atuações.
Ignorar o telão do U2 significa ignorar a essência da turnê 360º, que é ser MULTIMÍDIA. Com esses shows, o U2 atingiu um novo e impressionante patamar no formato ao vivo que vem desenvolvendo há anos.
A Billboard Brasil acertou ao entrevistar Willie Williams, diretor de palco da banda desde 1982. Para se ter uma ideia de sua importância no esquema, ele é considerado o sexto membro da banda (o quinto é o empresário Paul McGuiness).
Nas conversas durante o show (eu fui no sábado, 9/4) comentar sobre o telão, em tons embasbacados, era obrigatório. Arrisco dizer que falou-se mais do telão do que da música.
E era mesmo algo de tirar o fôlego: tamanho gigantesco, definição de TV HD e imagens com textura de película cinematográfica. Efeitos, filtros e sobreposições com animações e grafismos invadem o vídeo em vários momentos. Daí, certa hora, ele se desmembra em dezenas de telas menores, virando algo que parecia uma gigantesca nave em forma de colmeia.
Assim:
O telão do U2 dá margem a algumas reflexões.
Uma delas foi levantada pela resenha que o Terra publicou do show: estávamos diante de uma representação da realidade que é muito mais atraente que a própria realidade.
Nada mais apropriado então, como bem notou a jornalista Carol Almeida, que o U2 começasse o show com “Even Better Than The Real Thing”. O telão do show, tradicionalmente um acessório para ajudar quem está longe do palco a ver melhor, virou uma atração por si só, “ainda melhor que a coisa real”.
Esse conceito amarra muito bem com uma banda que, desde o álbum Achtung Baby(91), vem brincando com temas interrelacionados como hiperrealidade, simulacro, pop art, preocupação com a imagem, a disseminação da tecnologia no dia-a-dia e o bombardeio midiático.
O show do U2 também está alinhado com o que quer o público nos dias de hoje.
O lançamento do iPad atrai mais interesse do que qualquer novo álbum de música. Mais gente se empolga com um app novo do iPhone do que com qualquer som que tenha chegado para “salvar o rock (ou o soul, ou a música eletrônica)”.
No baile da era digital, a música tem ficado sentada num canto enquanto todo mundo dá atenção para a tecnologia. Música hoje é só algo pra preencher nossos reluzentes players, não mais o território de sonho e fantasia que era décadas atrás.
São os ciclos da cultura pop. Há 50 anos, os astros do cinema deixaram de ser a realeza da cultura de massa, cedendo lugar às estrelas do rock. O pessoal da música segurou bem sua posição até que a fragmentação pós-moderna dos nichos e gostos começou a minar sua onipresença. Já no começo dos 90, se falava em fim do pop e em como nunca mais teríamos “um Michael Jackson”.
Nos últimos dez anos, o que se viu foi a tecnologia (games, softwares, apps, smartphones, gadgets) exercendo um fascínio muito maior que os melhores álbuns ou popstars conseguem.
Os artistas, que ficaram mal acostumados com a tecnologia, têm sua parcela de culpa. Moby, numa entrevista para a Wired, provoca na direção certa: “existe um monte de gente fazendo discos que são bem bons, mas não um monte de gente fazendo discos que são realmente excelentes. Esse é o lado ruim de software incrível. Você pode sentar com Reason ou Ableton e, literalmente, em algumas horas fazer um disco que soa muito bem. Muitas pessoas estão satisfeitas com isso, em vez de se empenhar em fazer algo que soa fantástico.”
O U2 não lança um álbum relevante (para quem não é fã, pelo menos) faz uns 15 anos. Mas os telões e a produção dos shows, esses só melhoram.


Foto: divulgação site oficial EC

O segundo semestre promete no quesito “rock and roll dos bons”. E estamos falando de som para público de gostos bem distintos. Seja rock ou pop com elementos de blues – Grunge com disparates folk e muita lenha na fogueira – ou o bom e velho rock de arena. Isso porque segundo afirmou Fernando Moya, diretor da produtora Time For Fun na Argentina, o Brasil irá receber no segundo semestre, apresentações de Eric ClaptonPearl Jam e Aerosmith. O primeiro a desembarcar no país deve ser o Pearl Jam (setembro). Em outubro, é a vez de Eric Clapton chegar ao país, após dez anos desde sua última apresentação em território brasileiro. OAerosmith, que esteve por aqui recentemente, voltará em novembro.
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Divulgação site oficial PJ

Divulgação site oficial PJ
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De acordo com a entrevista de Moya ao jornal El Cronista, a filial brasileira da T4F já teria pago, em 2010, cerca de 900 mil dólares referentes aos três shows, que virão em turnê pela América do Sul, passando por BrasilChile e Argentina. No site oficial dos artistas não há informações sobre a turnê. Inclusive, a assessoria de imprensa da Time For Fun no Brasil também não confirma os shows.
Porém... O barulho já está feito e agora ficamos na torcida. E onde há fumaça…
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Divulgação site oficial Aerosmith

via blog do grings


Festival britânico Glastonbury divulga lista de atraçõesImagem: Reprodução
Glastonbury, um dos maiores festivais de música do mundo, divulgou hoje (14/4) a escalação completa de bandas do evento, que será realizado na Inglaterra entre os dias 24 e 26 de junho. A edição de 2011 trará artistas como Beyoncé, U2, Coldplay, Morrissey, B.B. King, Primal Scream, Queens of the Stone Age, DJ Shadow, Kool & The Gang, entre (muitos) outros.

 
Clique aqui para conferir a programação completa.

via billboard


Existe um caráter de imprevisível quando colocamos nossa cabeça pra funcionar, esprememos as idéias, ajustamos os ponteiros, removemos a poeira e compomos uma música.
Você simplesmente não sabe exatamente o que será feito dela e não possui controle algum sobre os caminhos que ela percorrerá. Quem poderia dizer que Robert Johnson, o tinhoso do blues, influenciaria toda uma geração de guitarristas e blueseiros, fundamentando todo um estilo musical, repercutindo, finalmente no rock?
Segundo Bob Dylan, “uma canção é algo que anda por si só” (“A song is something that walks by itself”). Talvez ele não pudesse estar mais correto. A prova:

Link YouTube | “Como as you are”. Genial.

Não parece, mas eles estão tocando Nirvana
Antes de seguir, uma pequena pausa para os fãs de Nirvana xingarem muito no Twitter.
Curiosa, também, é esta versão de “Wish You Were Here” (Pink Floyd):
E que tal um pouco de Eric Clapton (“Wonderful tonight”), por Leandro e Leonardo?
Pra finalizar, a mais impactante de todas:

Horrível, certo?

Talvez. Convido-os a pensar por um outro lado.
O que nós dizemos, hoje, de versões como essas, é a mesma coisa que costumavam falar sobre o Led Zeppelin, quando se apropriou de várias canções do Willie Dixon, um fantástico compositor de blues – praticamente anônimo, quando comparado àqueles que tocaram suas músicas.

Link YouTube | Mal consigo imaginar os puristas do blues xingando isso, mas acontecia
Dentro da própria cultura musical do blues, isto era algo muito comum de acontecer. Na época em que o rádio dominava, era a música que importava. Os artistas dificilmente tinham seus rostos conhecidos e acabava ocorrendo destas canções serem transmitidas por rodas de trabalhadores braçais tocando violão juntos. Uns mostravam canções aos outros tocando, na marra, coisas que algumas vezes só tiveram uma única chance de ouvir. Agradeça pelo iPod que você tem agora.
Muitos de nós, incluindo eu, dificilmente conheceríamos peças musicais maravilhosas se não fossem as versões. E é interessantíssimo como muita coisa penetrou na nossa cultura através deste recurso. Ou vocês nunca ouviram aquelas clássicas versões em português dos Beatles, cantadas pelo pessoal da Jovem Guarda?
Não é sensacional a ideia de que uma canção pode ter tanto poder sobre as pessoas que consegue penetrar mundos e vidas tão distantes do contexto original onde ela foi composta?
Eu, no lugar do Kurt Cobain ou dos que sobraram do Pink Floyd, estaria exultante de felicidade. Talvez não pela versão em si, mas pelo fato de que, talvez, a maioria das pessoas ali, presentes, ouvindo e cantando uma versão distorcida da canção, sequer soubesse quem eram os autores originais. Imagine ser o criador de algo com tanto poder que consegue falar por si só, sem a necessidade da sua presença como emissor daquela mensagem?
Hoje, ouvindo essas regravações, penso que, na pior das hipóteses, pelo menos as pessoas ainda estão ouvindo essas músicas. Ruim será no dia em que nem isso mais acontecer.

via papo de homem

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