Archive for 09/24/12
A música "Sandau", da banda Tereza, descreve uma cena típica do Rio:
ônibus cheio em um domingo quente em direção à praia. A bagunça inclui
pessoas locais "segurando o tchan" e estranhos "gringos de saia". A
viagem condiz com o som do jovem quinteto que ganhou o troféu
"Experimente" como aposta do Prêmio Multishow 2012. A banda mistura
modernidades estrangeiras incomuns para o grande público com pop
brasileiro mais "ordinário". "A gente quis causar essa confusão,
exagerar no pop e ao mesmo tempo no alternativo", diz o guitarrista
Mateus Sanches.
O grupo de amigos de colégio em Niterói está junto como banda há quatro
anos. Exceto o baterista Rodrigo Martins, com 21, todos têm 23 anos. Os
jovens resolveram, há um ano, trancar a faculdade para se dedicar à
Tereza. Em 2012, lançou o álbum "Vem ser artista aqui fora". O nome da
banda é homenagem à garota mais cobiçada entre os alunos. "Ela era a
bonitona da escola", lembra Mateus. Tereza, hoje amiga do grupo,
festejou com os integrantes da banda homônima o recente prêmio.
Quando vocês cantam 'beat it laun daun daun', na música 'Sandau', fazem uma referência ao Skank ou é coincidência?
Mateus Sanches - Foi uma referência direta. A música conta uma historinha, de ir para a praia num domingo com calor de quarenta graus. “Garota nacional” está tocando no ônibus, todo mundo se empurra, aquele cheiro de protetor solar. O pop dos anos 90 foi uma referência musical no CD e nessa música a gente cita na lata.
Mateus Sanches - Foi uma referência direta. A música conta uma historinha, de ir para a praia num domingo com calor de quarenta graus. “Garota nacional” está tocando no ônibus, todo mundo se empurra, aquele cheiro de protetor solar. O pop dos anos 90 foi uma referência musical no CD e nessa música a gente cita na lata.
Uma resenha do jornal 'O Globo' citou a Kelly Key. É uma referência?
Mateus Sanches - A Kelly Key não foi uma influência direta. Mas contamos sobre essa citação para o nosso produtor, no Prêmio Multishow, e ele disse que isso era a melhor coisa que poderiam ter falado do disco. A gente quis causar essa confusão, exagerar no pop e ao mesmo tempo no alternativo. Tem essa coisa do “trash” mais proposital.
Mateus Sanches - A Kelly Key não foi uma influência direta. Mas contamos sobre essa citação para o nosso produtor, no Prêmio Multishow, e ele disse que isso era a melhor coisa que poderiam ter falado do disco. A gente quis causar essa confusão, exagerar no pop e ao mesmo tempo no alternativo. Tem essa coisa do “trash” mais proposital.
O disco de vocês tem coisas eletrônicas que podem ter vindo
tanto do funk melody carioca quanto do electropop resgatado por muitos
grupos gringos atuais. Qual foi a fonte?
Mateus Sanches - São as duas coisas. A gente quis usar as referências nacionais dessa época. Resgatar coisas que ouvia quando estava junto no colégio. Quisemos ilustrar um tempo nostálgico. Era isso que tocava na rádio, que ouvia em festa. Quisemos misturar com o rock mais moderno, que a gente curte. Funk melody com Empire of the Sun e Hot Chip.
Mateus Sanches - São as duas coisas. A gente quis usar as referências nacionais dessa época. Resgatar coisas que ouvia quando estava junto no colégio. Quisemos ilustrar um tempo nostálgico. Era isso que tocava na rádio, que ouvia em festa. Quisemos misturar com o rock mais moderno, que a gente curte. Funk melody com Empire of the Sun e Hot Chip.
O Rio de Janeiro teve recentemente outras 'revelações' do
rock, como Moptop e Rockz, que foram elogiadas, com bom público local e
especializado, mas não viraram nomes nacionais para o grande público.
Vocês querem passar dessa etapa?
Mateus Sanches - A gente pretende ir adiante. O único single que lançamos até agora foi “Vamos sair para jantar”, que é mais difícil, mais underground. Foi bom conquistar coisas só com essa música lançada. Agora que o nome está no ouvido das pessoas, a gente fica mais confortável para lançar músicas mais fortes, como “Sandau” e “Calçada da batalha”. E tentamos evoluir sempre. As primeiras demos que lançamos há anos são diferentes de hoje. Estamos amadurecendo.
Mateus Sanches - A gente pretende ir adiante. O único single que lançamos até agora foi “Vamos sair para jantar”, que é mais difícil, mais underground. Foi bom conquistar coisas só com essa música lançada. Agora que o nome está no ouvido das pessoas, a gente fica mais confortável para lançar músicas mais fortes, como “Sandau” e “Calçada da batalha”. E tentamos evoluir sempre. As primeiras demos que lançamos há anos são diferentes de hoje. Estamos amadurecendo.
Temos hoje no Brasil um sertanejo descaradamente pop. No meio
que se chamava 'indie' ou 'alternativo', parece que há um medo do pop:
muitos vão para o lado da MPB mais retrô, ou para o experimental. Vocês
quiseram assumir o lado acessível?
Mateus Sanches - Sem dúvida a gente queria esse lado pop. Mas é complicado fazer em português música eletrônica, indie, ou o que quer que você queira chamar. Fazendo o disco, em vários momentos a gente pensava: “Isso está parecendo sertanejo”. Para outras bandas, o fato de cantar em inglês faz a coisa parecer mais underground, mesmo que eles estejam fazendo algo pop. E na hora de fazer em português, muita gente tem medo. No começo da banda a gente deixava a música estranha para fugir de qualquer possiblidade de soar cafona. Essa foi uma dificuldade, de fazer pop e não ser brega. Aí entra essa coisa de equilibrar, como uma letra de amor que não seja muito melosa.
Mateus Sanches - Sem dúvida a gente queria esse lado pop. Mas é complicado fazer em português música eletrônica, indie, ou o que quer que você queira chamar. Fazendo o disco, em vários momentos a gente pensava: “Isso está parecendo sertanejo”. Para outras bandas, o fato de cantar em inglês faz a coisa parecer mais underground, mesmo que eles estejam fazendo algo pop. E na hora de fazer em português, muita gente tem medo. No começo da banda a gente deixava a música estranha para fugir de qualquer possiblidade de soar cafona. Essa foi uma dificuldade, de fazer pop e não ser brega. Aí entra essa coisa de equilibrar, como uma letra de amor que não seja muito melosa.
A história da Tereza, que inspirou o nome da banda, se parece
com a da Anna Júlia, da música dos Los Hermanos, já que ninguém da banda
ficou com ela. Vocês sofreram pela Tereza também?
Mateus Sanches - A gente nunca sofreu pela Teresa. Se
algum integrante sofreu, não contou. Todo o colégio era apaixonado, ela
era a bonitona da escola. Escolhemos o nome pois tinha uma história boa
por trás. Mas é uma amiga, sempre foi uma amiga. Ela foi na festa que a
gente fez para comemorar o Prêmio Multishow.
E na festa da premiação houve algum encontro com artistas mais conhecidos?
Mateus Sanches - O pessoal do NxZero veio falar com a gente. É uma banda completamente diferente da nossa. Mas ele falaram que ficaram arrepiados quando nos viram comemorando. Ninguém estava comemorando muito, mas a gente vibrou bastante. A gente viu que foi sincero quando eles falaram isso. Foi legal, fez minha noite. E é legal ver uma banda consolidada, deixou a gente mais animado, ver que estamos perto disso.
Triângulos amorosos, rinha de egos, drogas e traições são os
ingredientes do coquetel molotov que deu fim à banda de rock Ira! em
2007, após 26 anos de estrada. A combinação explosiva pode ser
revisitada na biografia autorizada de Nasi — ex-vocalista e líder do
grupo, fundado nos anos 80 — escrita por Alexandre Petillo e Mauro
Beting.
Nas estatísticas do cantor, apenas 20% da obra "A ira de Nasi" aborda
novas e antigas polêmicas sobre o extinto conjunto. Embora tenha
mensagens claras destinadas a cada um dos antigos parceiros nas páginas
finais, ele garante que o livro não é uma provocação. “Não fiz para
agredir ou passar a mão na cabeça de ninguém.”
Em entrevista, Nasi avalia com acidez o cenário
nacional do rock e diz não temer que o livro sepulte oficialmente a
banda. “Não tenho medo disso. Não estou nem ai se o Ira! vai voltar um
dia. Estou muito bem do jeito que estou.” Para que houvesse uma turnê de
despedida, seria necessário, antes, que ele e o guitarrista Edgard
Scandurra tivessem um debate franco, numa espécie de acareação.
“Só deveria voltar se realmente eu e o Edgard sentássemos juntos pra conversar. Olha, a gente se magoou, se machucou, vamos fazer uma turnê de despedida? Vamos falar o que está engasgado um pro outro, fechar isso. Se tiver que sair no tapa sai, como é em várias atividades, no futebol, e no rock acontece muito. Mas isso não vai acontecer. Não consigo ver por causa do Edgard, pelo jeito dele. Um poço de sensibilidade."
O convite para escrever sua biografia partiu da editora, mas você sentia vontade do registro e de dar a sua versão dos fatos?
Nasi - Não tinha parado pra pensar nisso ainda. Minha versão já tinha saído de maneira bem presente na mídia. Não sentia essa necessidade, mesmo porque o livro não tem a intenção de ser um acerto de contas, a palavra final. Acho que ele fala 20% dos meus aspectos da separação do Ira!, ou novidades que levaram a separação da banda.
Por que não tem fotos do Ira! no livro?
Nasi - Achei por bem e por precaução judicial não explorar a imagem de ninguém que não fosse a minha pessoa, ou de músicos que estão em contato comigo. A forma como o Ira! acabou, por mais que não tenha litígios judiciais, a ferida ainda está um pouco aberta. Não queria que amanhã ou depois alguém chegasse e falasse assim: "olha, o uso indevido da minha imagem". Infelizmente isso são coisas que permeiam as biografias. Pra não deixar margem à dúvida, e como é algo centrado na minha pessoa, procurei não utilizar a imagem dos outros membros. Canja de galinha e cuidado não custam nada.
Em uma das entrevistas da biografia você diz que o melhor disco do Ira! nunca foi gravado. Isso é um assunto pendente, uma frustração, ou apenas uma constatação?
Nasi - É uma constatação. Não digo uma frustração, mas uma lamentação, porque o Ira! teve um período criativo muito bacana de 83 até o final de 84. Era um período em que nos dividíamos em outros trabalhos. Era quase um movimento que existia em São Paulo, do rock paulistano. Eu acho que desse curto período o Ira! teve uma sonoridade muito particular que não se repetiu em outras obras. Um punk ácido, dissonante, muito intenso, um repertório que depois, algumas dessas músicas foram lançadas até como complemento de outros álbuns, mas totalmente fora de contexto. Lamento que naquela época estivéssemos à margem da indústria. Tínhamos um contrato com a Warner, mas estávamos na geladeira da gravadora. Se tivéssemos registrado, eram músicas difíceis de tocar em rádio, mas de uma intensidade, um trabalho, uma versão que só quem viu naquela época pode conferir.
No capítulo 12 da obra você afirma: 'Víamos o rock nacional se transformar em uma imensa bosta, sendo vendido como mercadoria de quinta categoria'. Acha que conseguiram conter esse movimento? Como analisa a produção hoje?
Nasi - Toda vez que um movimento hegemônico se apresenta, não interessa qual é o gênero musical, o mais prejudicado é o próprio estilo. Apesar da década de 80 ter gerado artistas seminais como Barão Vermelho e Cazuza, Renato Russo e a Legião Urbana, Titãs, Ultraje [a Rigor], pra cada um desses existiam 10 Dr. Silvana [banda de rock carioca], e outras porcarias que falavam em nome do rock e preenchiam os programas de auditório. O rock se desgastou muito nessa época. Como gênero musical, deixou que suas principais características de rebeldia, discurso e atitude e até de uma música mais agressiva, fosse passado para um gênero que virou, em muitos momentos, comercial de sandália Melissa. Sobre agora: antigamente era pior, depois foi piorando. Apesar de trabalhos muito legais como O Rappa e Planet Hemp, tivemos um declínio importante de discurso. Faltaram, tirando essas poucas exceções que eu citei, novos poetas. Mas acredito que a criatividade é cíclica. Novamente virá um gênero que agrida as convenções estabelecidas.
“Só deveria voltar se realmente eu e o Edgard sentássemos juntos pra conversar. Olha, a gente se magoou, se machucou, vamos fazer uma turnê de despedida? Vamos falar o que está engasgado um pro outro, fechar isso. Se tiver que sair no tapa sai, como é em várias atividades, no futebol, e no rock acontece muito. Mas isso não vai acontecer. Não consigo ver por causa do Edgard, pelo jeito dele. Um poço de sensibilidade."
O convite para escrever sua biografia partiu da editora, mas você sentia vontade do registro e de dar a sua versão dos fatos?
Nasi - Não tinha parado pra pensar nisso ainda. Minha versão já tinha saído de maneira bem presente na mídia. Não sentia essa necessidade, mesmo porque o livro não tem a intenção de ser um acerto de contas, a palavra final. Acho que ele fala 20% dos meus aspectos da separação do Ira!, ou novidades que levaram a separação da banda.
Por que não tem fotos do Ira! no livro?
Nasi - Achei por bem e por precaução judicial não explorar a imagem de ninguém que não fosse a minha pessoa, ou de músicos que estão em contato comigo. A forma como o Ira! acabou, por mais que não tenha litígios judiciais, a ferida ainda está um pouco aberta. Não queria que amanhã ou depois alguém chegasse e falasse assim: "olha, o uso indevido da minha imagem". Infelizmente isso são coisas que permeiam as biografias. Pra não deixar margem à dúvida, e como é algo centrado na minha pessoa, procurei não utilizar a imagem dos outros membros. Canja de galinha e cuidado não custam nada.
Em uma das entrevistas da biografia você diz que o melhor disco do Ira! nunca foi gravado. Isso é um assunto pendente, uma frustração, ou apenas uma constatação?
Nasi - É uma constatação. Não digo uma frustração, mas uma lamentação, porque o Ira! teve um período criativo muito bacana de 83 até o final de 84. Era um período em que nos dividíamos em outros trabalhos. Era quase um movimento que existia em São Paulo, do rock paulistano. Eu acho que desse curto período o Ira! teve uma sonoridade muito particular que não se repetiu em outras obras. Um punk ácido, dissonante, muito intenso, um repertório que depois, algumas dessas músicas foram lançadas até como complemento de outros álbuns, mas totalmente fora de contexto. Lamento que naquela época estivéssemos à margem da indústria. Tínhamos um contrato com a Warner, mas estávamos na geladeira da gravadora. Se tivéssemos registrado, eram músicas difíceis de tocar em rádio, mas de uma intensidade, um trabalho, uma versão que só quem viu naquela época pode conferir.
No capítulo 12 da obra você afirma: 'Víamos o rock nacional se transformar em uma imensa bosta, sendo vendido como mercadoria de quinta categoria'. Acha que conseguiram conter esse movimento? Como analisa a produção hoje?
Nasi - Toda vez que um movimento hegemônico se apresenta, não interessa qual é o gênero musical, o mais prejudicado é o próprio estilo. Apesar da década de 80 ter gerado artistas seminais como Barão Vermelho e Cazuza, Renato Russo e a Legião Urbana, Titãs, Ultraje [a Rigor], pra cada um desses existiam 10 Dr. Silvana [banda de rock carioca], e outras porcarias que falavam em nome do rock e preenchiam os programas de auditório. O rock se desgastou muito nessa época. Como gênero musical, deixou que suas principais características de rebeldia, discurso e atitude e até de uma música mais agressiva, fosse passado para um gênero que virou, em muitos momentos, comercial de sandália Melissa. Sobre agora: antigamente era pior, depois foi piorando. Apesar de trabalhos muito legais como O Rappa e Planet Hemp, tivemos um declínio importante de discurso. Faltaram, tirando essas poucas exceções que eu citei, novos poetas. Mas acredito que a criatividade é cíclica. Novamente virá um gênero que agrida as convenções estabelecidas.
Se antigamente para cada banda boa de rock existiam '10 porcarias', hoje qual seria a sua estatística?
Nasi - Hoje não tem mais bandas boas.
Nasi - Hoje não tem mais bandas boas.
Na biografia, você diz que exagerou na famosa entrevista a
uma revista masculina, em 2006, ao declarar que já tinha transado com
1150 mulheres. Você realmente contabilizou suas conquistas?
Nasi - Óbvio que eu nunca contei. Mas eu tenho minha avaliação de quantos shows eu já fiz na vida. Poderia dizer pra você como um homem que viveu bastante nesse sentido, como um cantor de rock solteiro, que eu tive pro número de shows que eu fiz, que passam de dois mil, digamos assim, prorrogação depois.
Nasi - Óbvio que eu nunca contei. Mas eu tenho minha avaliação de quantos shows eu já fiz na vida. Poderia dizer pra você como um homem que viveu bastante nesse sentido, como um cantor de rock solteiro, que eu tive pro número de shows que eu fiz, que passam de dois mil, digamos assim, prorrogação depois.
A droga no começo do livro é relatada como importante
fonte de inspiração. Depois, mostra seu sofrimento para manter-se limpo.
Qual foi o papel da cocaína na sua vida?
Nasi - Quando voltei a cheirar em 1991, foi um período que eu tinha mais uma vez fracassado em um relacionamento e vivia enfurnado na minha casa fumando [maconha] desde que eu acordava. Depois, fui entender que o estado mórbido e até depressivo não era só pelo fracasso amoroso, ou por dúvidas que naquele momento da profissão e carreira se apresentavam — a década de 90 foi uma decadência, não só pro Ira!, mas pro rock nacional em geral —. Toda aquela maconha me tornava uma pessoa mais fechada. Quando a cocaína veio, eu comecei a discotecar na noite paulistana. E foi um "pó de pirlimpimpim". Expansão do ego, comunicabilidade. Foi meio que uma cura. Esse foi o grande erro. Na hora que percebi que alterava minha saúde, sanidade, não consegui mais sair. Passava a usar pra viver e viver pra usar. Quando você é jovem, a experimentação vem muito forte. Hoje eu não acredito que a criatividade tenha a ver com o uso de drogas.
Nasi - Quando voltei a cheirar em 1991, foi um período que eu tinha mais uma vez fracassado em um relacionamento e vivia enfurnado na minha casa fumando [maconha] desde que eu acordava. Depois, fui entender que o estado mórbido e até depressivo não era só pelo fracasso amoroso, ou por dúvidas que naquele momento da profissão e carreira se apresentavam — a década de 90 foi uma decadência, não só pro Ira!, mas pro rock nacional em geral —. Toda aquela maconha me tornava uma pessoa mais fechada. Quando a cocaína veio, eu comecei a discotecar na noite paulistana. E foi um "pó de pirlimpimpim". Expansão do ego, comunicabilidade. Foi meio que uma cura. Esse foi o grande erro. Na hora que percebi que alterava minha saúde, sanidade, não consegui mais sair. Passava a usar pra viver e viver pra usar. Quando você é jovem, a experimentação vem muito forte. Hoje eu não acredito que a criatividade tenha a ver com o uso de drogas.
Não vê mais sentido na expressão 'Sexo, drogas e rock and roll'?
Nasi - Existe uma ideia sobre os anos 60 e as drogas que pertencem ao contexto da contracultura. Liberação politica, sexual e ideológica. A droga fez parte do ponche desse momento e de uma inocência muito grande. Hoje temos os estudos sobre as sequelas, e sabemos como funciona o mundo do crime e do tráfico. Nos anos 60 existia razão pra inocência da droga como fator de libertação. Hoje não temos mais o direito. Naquele baseado que você fuma, no pó que você cheira, existe sangue de criança para o produto chegar fresquinho na sua mão. Esse trinômio não faz mais sentido.
Nasi - Existe uma ideia sobre os anos 60 e as drogas que pertencem ao contexto da contracultura. Liberação politica, sexual e ideológica. A droga fez parte do ponche desse momento e de uma inocência muito grande. Hoje temos os estudos sobre as sequelas, e sabemos como funciona o mundo do crime e do tráfico. Nos anos 60 existia razão pra inocência da droga como fator de libertação. Hoje não temos mais o direito. Naquele baseado que você fuma, no pó que você cheira, existe sangue de criança para o produto chegar fresquinho na sua mão. Esse trinômio não faz mais sentido.
Tem alguma sugestão para um novo trinômio?
Nasi - Sexo, dopamina e rock and roll.
A quem você credita o final do Ira!? No livro você afirma
que o Edgard foi o mentor da separação. Mas não foi um coquetel formado
por mulher, traição, cocaína e egos?
Nasi - Eu acho que todo esse coquetel, sem dúvida, o choque de egos em primeiro plano, e a nossa relação infantilizada. Enquanto o Ira! viveu na clandestinidade e no amadorismo, nós funcionávamos muito bem. Quando a esfinge do sucesso apareceu na nossa frente e disse “decifra-me ou te devoro” começamos a ser devorados. Em 2005, sou chamado pelo meu empresário pra mostrar um e-mail que o Edgard mandou pra ele, quando estávamos nos preparando para fazer o último disco do Ira!, onde o Edgard justifica toda a incapacidade de compor, porque não esquecia o que tinha acontecido há dez anos. Naquele momento, no meio da turnê, reuni a banda no camarim e falei que no final do ano ia embora. O Edgard pediu pelo amor de Deus para eu não sair. Cheguei e falei: 'ta bom'. Só que já estava decidido que o Ira! precisava de um tempo. Quando eu digo que o Edgard é o mentor, é porque existe um documento, que inclusive é público, chamado Carta de Finalização de Trabalho, escrita pelo meu irmão.Tem trechos dela no livro, e fala que o Edgard já vinha insistindo, desde a década de 90, dizendo "esse é meu último disco, essa é minha a última turnê", quase como se fosse um exercício de poder. Hoje eu vejo isso porque na hora que eu falei "vamos dar um tempo" ele deveria ter sido o primeiro a falar: "Nasi, você tem razão".
A Beatriz [namorada de Edgard em 1994, que teve um relacionamento Nasi na mesma época] foi um drama ressuscitado durante a gravação do Acústico MTV. Mas, pela descrição no livro, ela parece ter sido uma mulher secundária pra você. Se arrepende? Por qual razão decidiu revelar trechos das cartas que ela te enviava na biografia?
Nasi: Entreguei o original de todas as cartas ao Mauro Beting e deixei a critério dele escolher trechos para publicar. Expus isso porque poderia parecer uma história que eu estou inventando, supervalorizando. Os trechos escolhidos mostram que não foi uma sacanagem, foi uma fera, aconteceu. E quando a gente se viu brincando de fogo, todos se queimaram. Última vez que o Edgard trouxe isso à tona foi em 2006 num e-mail difamatório, agressivo que ele não teve nem coragem de mandar pra mim. Eu não poderia me arrepender hoje porque estou muito bem do jeito que estou, voltando agora em um relacionamento, que espero que tenha um prosseguimento mais adulto do que tive em toda minha vida. É uma meta minha me relacionar de uma maneira adulta. Eu estaria negando tudo isso. Mas durante muito tempo eu pensei que ela era uma menina muito bacana, que estava realmente apaixonada por mim. Seria uma pessoa legal para ter um relacionamento. Mas eu não tinha condições e nem coragem, essa é a verdade. Eu sabia que se eu chegasse e falasse [pro Edgard]: Olha, ela está se separando de você e nós vamos ficar juntos, seria falar "acabou o Ira!".
O livro mostra o seu ego e o do Edgard se digladiando o tempo todo. Mas no final, sua mensagem é positiva para ele, e rancorosa com o André Jung [baterista do Ira!]. Por quê?
Nasi - Eu procuro nem falar muito dele. Eu tenho uma história com o Edgard. Nós saímos da escola praticamente pro mundo musical juntos. Tenho um respeito muito grande por ele como músico, apesar dele viver hoje — e há muito tempo — uma crise criativa, que ele deveria olhar com menos arrogância, ou de uma maneira mais humana, humilde, talvez voltasse pra ele algumas inspirações mais superiores, eu não posso deixar de reconhecer que sempre fui fã dele como músico, antes de ter uma banda. Já tem esse respeito musical que me faz separar a pessoa do artista. Ao artista, eu realmente desejo tudo de bom. É um cara que ainda tem muito pra dar à música brasileira. O cara mais amigo que ele teve na vida fui eu. Eu que levei ele pro Ira! Os Titãs quando demitiram o André, colocaram a culpa nele pela falta de "peso" na banda. É como se um grande clube fosse trazer um jogador da série C pra ser o camisa 10. E eu banquei isso durante muito tempo. Às vezes quando a gente ajuda muito uma pessoa, a gente humilha ela. E pode provocar raiva. Acho que o André tinha algum complexo de inferioridade comigo.
Um reencontro na formação original, então, seria impossível?
Nasi - Eu não vejo horizonte pro Ira! voltar. Se em 27 anos a gente não digeriu isso ai, não vai ser agora em dois, três meses. Mas o Edgard, pelo músico que é, eu vejo uma possibilidade hipotética. Mas com o André eu não toco nunca mais. Pela pessoa que ele é e, principalmente, pelo baterista que ele não é.
Nasi - Eu acho que todo esse coquetel, sem dúvida, o choque de egos em primeiro plano, e a nossa relação infantilizada. Enquanto o Ira! viveu na clandestinidade e no amadorismo, nós funcionávamos muito bem. Quando a esfinge do sucesso apareceu na nossa frente e disse “decifra-me ou te devoro” começamos a ser devorados. Em 2005, sou chamado pelo meu empresário pra mostrar um e-mail que o Edgard mandou pra ele, quando estávamos nos preparando para fazer o último disco do Ira!, onde o Edgard justifica toda a incapacidade de compor, porque não esquecia o que tinha acontecido há dez anos. Naquele momento, no meio da turnê, reuni a banda no camarim e falei que no final do ano ia embora. O Edgard pediu pelo amor de Deus para eu não sair. Cheguei e falei: 'ta bom'. Só que já estava decidido que o Ira! precisava de um tempo. Quando eu digo que o Edgard é o mentor, é porque existe um documento, que inclusive é público, chamado Carta de Finalização de Trabalho, escrita pelo meu irmão.Tem trechos dela no livro, e fala que o Edgard já vinha insistindo, desde a década de 90, dizendo "esse é meu último disco, essa é minha a última turnê", quase como se fosse um exercício de poder. Hoje eu vejo isso porque na hora que eu falei "vamos dar um tempo" ele deveria ter sido o primeiro a falar: "Nasi, você tem razão".
A Beatriz [namorada de Edgard em 1994, que teve um relacionamento Nasi na mesma época] foi um drama ressuscitado durante a gravação do Acústico MTV. Mas, pela descrição no livro, ela parece ter sido uma mulher secundária pra você. Se arrepende? Por qual razão decidiu revelar trechos das cartas que ela te enviava na biografia?
Nasi: Entreguei o original de todas as cartas ao Mauro Beting e deixei a critério dele escolher trechos para publicar. Expus isso porque poderia parecer uma história que eu estou inventando, supervalorizando. Os trechos escolhidos mostram que não foi uma sacanagem, foi uma fera, aconteceu. E quando a gente se viu brincando de fogo, todos se queimaram. Última vez que o Edgard trouxe isso à tona foi em 2006 num e-mail difamatório, agressivo que ele não teve nem coragem de mandar pra mim. Eu não poderia me arrepender hoje porque estou muito bem do jeito que estou, voltando agora em um relacionamento, que espero que tenha um prosseguimento mais adulto do que tive em toda minha vida. É uma meta minha me relacionar de uma maneira adulta. Eu estaria negando tudo isso. Mas durante muito tempo eu pensei que ela era uma menina muito bacana, que estava realmente apaixonada por mim. Seria uma pessoa legal para ter um relacionamento. Mas eu não tinha condições e nem coragem, essa é a verdade. Eu sabia que se eu chegasse e falasse [pro Edgard]: Olha, ela está se separando de você e nós vamos ficar juntos, seria falar "acabou o Ira!".
O livro mostra o seu ego e o do Edgard se digladiando o tempo todo. Mas no final, sua mensagem é positiva para ele, e rancorosa com o André Jung [baterista do Ira!]. Por quê?
Nasi - Eu procuro nem falar muito dele. Eu tenho uma história com o Edgard. Nós saímos da escola praticamente pro mundo musical juntos. Tenho um respeito muito grande por ele como músico, apesar dele viver hoje — e há muito tempo — uma crise criativa, que ele deveria olhar com menos arrogância, ou de uma maneira mais humana, humilde, talvez voltasse pra ele algumas inspirações mais superiores, eu não posso deixar de reconhecer que sempre fui fã dele como músico, antes de ter uma banda. Já tem esse respeito musical que me faz separar a pessoa do artista. Ao artista, eu realmente desejo tudo de bom. É um cara que ainda tem muito pra dar à música brasileira. O cara mais amigo que ele teve na vida fui eu. Eu que levei ele pro Ira! Os Titãs quando demitiram o André, colocaram a culpa nele pela falta de "peso" na banda. É como se um grande clube fosse trazer um jogador da série C pra ser o camisa 10. E eu banquei isso durante muito tempo. Às vezes quando a gente ajuda muito uma pessoa, a gente humilha ela. E pode provocar raiva. Acho que o André tinha algum complexo de inferioridade comigo.
Um reencontro na formação original, então, seria impossível?
Nasi - Eu não vejo horizonte pro Ira! voltar. Se em 27 anos a gente não digeriu isso ai, não vai ser agora em dois, três meses. Mas o Edgard, pelo músico que é, eu vejo uma possibilidade hipotética. Mas com o André eu não toco nunca mais. Pela pessoa que ele é e, principalmente, pelo baterista que ele não é.