Eric Clapton não esqueceu de alguns de seus hits na nova turnê brasileira, que começou na noite desta quinta-feira (6), em Porto Alegre. Mas boa parte das cerca de 20 mil pessoas que assistiram ao show no estacionamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) podem ter deixado o local com a sensação de que Clapton queria mesmo era passar a noite tocando clássicos do blues. Em 1h43min de apresentação, o guitarrista permaneceu quase um terço do show sentado, alternando entre a guitarra e o violão, e pouco falou com a plateia.
Depois de Porto Alegre, a turnê segue para o Rio de Janeiro (9 e 10 de outubro), São Paulo (dia 12), Buenos Aires (Argentina) e Santiago (Chile).
A postura de Clapton, no entanto, não é um sinal de cansaço ou enfadado com o giro sul-americano. A turnê “Clapton” havia sido iniciada no primeiro semestre e interrompida em junho após passar por países como Estados Unidos, Austrália, Inglaterra, Alemanha e Coreia do Sul.
O show de Porto Alegre marcou a retomada e, para reaquecer as turbinas, Clapton fechou um teatro na cidade para ensaiar com a banda entre terça (4) e quarta-feira (5) por mais de cinco horas consecutivas.
Como convém à fama dos conterrâneos, o músico inglês foi pontual e seguro ao apresentar um repertório de 16 músicas na cidade. O repertório pouco mudou na nova fase, e o guitarrista se mostra confortável com a decisão de passar boa parte do show sentado para um público de estádio, privilegiando os blues mais lentos e solos da banda. Os clássicos da carreira surgem como uma espécie de concessão de Clapton para o público.
Na noite fresca de Porto Alegre, o guitarrista abriu o show com quatro canções inspiradas no blues: “Going down slow”, “Key to the highway”, “Hoochie coochie man” e “Old love”.
Como de praxe, Clapton fez solos elegantes e chegou a arrancar aplausos no meio da música quando alternou frases em baixo volume com timbres distorcidos em “Old love”, um sinal de que a plateia também pagou ingresso para apreciar o virtuosismo que fez Clapton famoso.
O inglês abriu espaços generosos para os tecladistas Tim Carmon e Chris Staiton mostrarem seu talento.
Carmon, em particular, roubou a cena com solos de sintetizador e órgão. O lendário baterista Steve Gadd, o baixista Willie Weeks e as backing vocals Michelle John e Sharon White completam a banda enxuta que veio ao Brasil - curiosamente, Clapton não trouxe nenhum outro guitarrista para lhe fazer companhia, como de costume.
A quinta canção da noite foi “Tearing us apart”, um pop dançante dos anos 80 que Clapton usou para agitar a plateia antes de puxar a cadeira.
Sentado, o inglês interpretou “Drifiting blues”, “Nobody knows you when uou're down and out”, “Lay down Sally” e “When somebody thinks uou're wonderful”, esta última uma canção da década de 30 que é a única faixa do último disco do músico, “Clapton”, lançado em 2010, a entrar no repertório.
Antes de levantar de novo, o guitarrista tocou “Layla” em um novo arranjo, mais arrastado, inspirado na versão do disco “Wynton Marsalis and Eric Clapton play the blues”, lançado em setembro, que compila canções de blues em formato tradicional.
“Layla” é a única composição de Clapton a figurar na colaboração com Marsalis gravada em abril, em dois shows realizados em Nova York, onde o clássico do Derek and The Dominos ganhou uma reinterpretação com ares de uma bela marcha fúnebre ao estilo das bandas de sopros de New Orleans. Quem espera a pegada rock de “Layla” dos anos 70 pode sair decepcionado.
Clapton abriu a parte final do show com a animada “Badge”, hit da época do Cream, e engatou com “Wonderful tonight”. A inspiração do blues voltou mais uma vez perto do final da apresentação com “Before you accuse me” e “Little queen of spades”, quando Tim Carmon arrancou aplausos de novo com os solos de órgão e sintetizador. Para encerrar, “Cocaine”.
Clapton vez uma rápida parada antes do bis, que feio enxuto, somente com “Crossroads”. E foi só. O guitarrista agradeceu mais uma vez em inglês (preferiu o português uma única vez no show) e deixou o palco para seguir a turnê no Rio de Janeiro.