Archive for 06/15/12

Teste-surpresa: mencione duas bandas do rock nacional que tenham mais de 20 anos de estrada. Sim, são várias. Agora pense em duas que têm como característica o humor, nenhum medo de assuntos espinhosos (política, sexo...) e que não se furtam a empregar um eventual baixo calão. E se uma tocasse músicas da outra?

— É uma ideia sensacional — diz Roger Rocha Moreira, cantor e guitarrista cujo grupo está no disco "Ultraje a Rigor vs. Raimundos" (Deck), e que, à frente de Mingau (baixo), Bacalhau (bateria) e Marcos Kleine (guitarra), gravou clássicos do grupo brasiliense como "Puteiro em João Pessoa", "O pão da minha prima" e "Eu quero ver o oco". 

— É uma homenagem mútua, ou, como diz o nome do disco, um embate, uma sanacagem mútua. Sempre vi uma ligação entre nós e os Raimundos, essa irreverência. Acho que eles são a banda mais importante dos anos 1990. (Ouça acima a versão do Ultraje para "Me Lambe" e clique aqui para ouvir os Raimundos tocando "Rebelde sem causa")

Ideia do produtor Rafael Ramos
Seu colega, o também cantor e guitarrista Digão, retribui a rasgação de seda:

— Véi, foi muito massa — diz ele, a bordo de um ônibus a caminho de um show em Guaxupé (MG). — Quando o Rafa (Rafael Ramos, produtor e sócio da gravadora Deck) me falou da ideia, topei na hora. O Ultraje nos influenciou muito, o Roger é um pouco pai da criança.

Segundo os dois, o processo foi simples: Rafael ligou, sugeriu, todos toparam e foram para estúdios em suas cidades (São Paulo, no caso do Ultraje, e Brasília, no dos Raimundos) gravar suas música favoritas.
— Começamos tocando as músicas iguaizinhas às gravações originais — lembra Roger. — Deu um certo trabalho, mas fomos colocando a cara do Ultraje, senão não teria a menor graça. Algumas ficaram bem parecidas, outras, nem tanto.

Entre as principais diferenças estão o som das guitarras, mais rasgado no caso dos Raimundos e mais "redondo" no do Ultraje, e, claro, as vozes e sotaques dos cantores. 

Quando Roger canta "Puteiro em João Pessoa", ficam perfeitamente inteligíveis frases poéticas como "Com a família embebedada, foi mais fácil armar bimbada prum recém-adolescente", além de uma preocupação com a gramática, mais típica de um senhor de 55 anos como Roger do que de um moleque de 21, idade que tinha o então cantor dos Raimundos, Rodolfo Abrantes, quando a banda lançou seu disco de estreia, em 1993. 

As letras tampouco ficaram incólumes: em vez do tradicional "Mais do que um bom bronzeado, nós queremos estar do seu lado", de "Nós vamos invadir sua praia", o maroto Digão apresentou uma variação.
— Eu sempre cantava, de brincadeira, "Mais do que um bom baseado, nós queremos fumar do seu lado". Ficou tão natural que acabou entrando — conta ele. — Agora vamos ver se armamos um show juntos. A gente se esbarra às vezes, na estrada, mas nunca produzimos um encontro.


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