Registros para a Alemanha
As caixas, à venda a partir de terça-feira, custarão R$ 239 cada, valor que incita a reflexões profundas sobre gastá-lo ou não. Um fator a considerar é o esmero habitual do trabalho de Faour, com encartes minuciosos e, no caso, recheados de informações transmitidas pela própria Bethânia. Outro fator são os dois CDs (um em cada caixa), aprovados pela cantora, que reúnem 29 gravações esparsas - não só do catálogo da Universal.
- Tentei privilegiar gravações de bom gosto que sobrevivem ao tempo - diz Faour. - Só não entraram mais porque, hoje em dia, para liberar qualquer música diferente, é uma burocracia insuportável.
Entre as raridades estão duas gravações ("Não tem solução", de Dorival Caymmi, e um
pot-pourri com "Asa branca", "Último pau de arara" e "Pau de arara") que ela fez para o LP "Nova bossa nova", encomenda de executivos alemães lançada na Europa em 1972 e da qual também participaram Paulinho da Viola, Sebastião Tapajós e o Terra Trio.
No mesmo CD também há quatro faixas cantadas ao vivo com Toquinho e Vinicius de Moraes na Argentina; três músicas ("Esotérico", "O seu amor" e "São João, Xangô menino") do compacto duplo feito com os Doces Bárbaros em 1976; e os sucessos "Coração ateu", da trilha da novela "Gabriela", e "Cavalgada", em duo com Erasmo Carlos.
O CD da segunda caixa começa com um sucesso: "Brincar de viver", feita por Guilherme Arantes para a trilha do especial da TV Globo "Plunct plact zum". Mas predominam momentos poucos conhecidos, como "Segue o teu destino", extraído do programa do show "Imitação da vida", de 1997; duas versões do "Hino à Nossa Senhora da Purificação" ao lado de Caetano Veloso; e gravações com Alcione de "Roda ciranda", de Martinho da Vila, e "Linda flor", tido como o primeiro dos sambas-canções.
As outras novidades em relação ao lote de 2006 são a trilha do filme "Quando o carnaval chegar" (1972), em que atuou com Chico Buarque e Nara Leão, e o duplo "Doces Bárbaros" (1976), com Caetano, Gal Costa e Gilberto Gil.
- Esses discos não foram incluídos na época porque estavam saindo nas discografias do Chico e Caetano - conta Faour, para quem a fase de Bethânia na Universal, além de mais numerosa, é a principal da carreira da intérprete. - É o auge de seu sucesso. Mas há de tudo um pouco nessas duas caixas, que impressionam pela qualidade e pela coerência inabaláveis.
Marcas consagradas
O primeiro item das caixas é o disco que Bethânia e Edu Lobo fizeram em 1966 para a Elenco, cujo acervo pertence à Universal. Mas é no período entre 1971 e 1985 que a cantora consolida suas marcas: frequentes registros ao vivo (começando pelo famoso show "Rosa dos ventos"); declamações de poemas; capacidade de fazer sucesso obedecendo o próprio gosto, de Adelino Moreira a Chico Buarque, passando por muito Gonzaguinha.
Bethânia retornou à gravadora em 1989 para fazer mais quatro discos, incluindo um campeão de vendas: "As canções que você fez para mim", com o repertório de Roberto Carlos.