Carmem e os músicos da banda Tantra finalizam em estúdio o álbum 'O fim da infância'. (Foto: Divulgação)
Já fazia um bom tempo que Carmem Manfredini gostava de cantar quando finalmente tomou coragem e mostrou ao irmão, Renato Russo (1960-1996), uma fitinha com algumas músicas gravadas. "Sua voz parece a da Yoko Ono", constatou o líder da Legião Urbana, deixando inconsolável a caçula da família.
Mais de duas décadas se passaram e Carmem agora conclui que a comparação foi um elogio. Embora não tenha lá muita certeza disso. "O Renato era assim. Deixava a gente feliz, mas com a pulga atrás da orelha", brinca a irmã do roqueiro, que após anos de dúvida resolveu se assumir como cantora.
"O fim da infância" é o título do álbum que lançará este mês com o grupo Tantra, formado por Fred Nascimento (guitarra), Gian Fabra (baixo), Carlos Trilha (teclado) e Lourenço Monteiro (bateria). Com exceção do baterista, todos são velhos conhecidos de Carmem, pois integraram a banda de apoio que tocava nos shows da Legião.
"Ela tem uma voz linda. E seu humor às vezes é bem parecido com o do Renato", elogia Fred, que nunca desconfiou que a jovem tímida que Russo gostava de levar nas turnês soubesse cantar. "Ele tinha o maior xodó com a irmã, que sempre ficava ali quietinha, observando tudo".
O guitarrista só foi descobrir a voz de Carmem, hoje com 46 anos, durante as gravações do "Tributo ao Álbum Branco" (2008) - homenagem às quatro décadas do clássico dos Beatles, no qual artistas nacionais fizeram versões das faixas. "Rocky Raccoon" coube a Carmem, que na época aceitou o convite meio relutante.
"Nem pensava mais em cantar. Sou professora de inglês há 23 anos", conta ela, que no passado fez parte de um grupo vocal e chegou a se apresentar com a banda underground Spirituals de Porco, em Brasília.
"Agora estou empolgada novamente. Vamos sair em turnê em julho", adianta a cantora, que, em nome da retomada artística, não deve lecionar nos próximos meses.
Além da irmã, outro membro da família Manfredini também está envolvido no meio musical: Giuliano, o filho de Renato Russo, hoje com 20 anos. "Ele teve duas bandas, mas os companheiros seguiram outros caminhos. Agora trabalha com produção cultural, com bandas de garagem muito talentosas", revela a tia, orgulhosa.
Semelhanças
Segundo Trilha, que além de tecladista também compõe e produz, o projeto "Carmem & Tantra" é musicalmente diferente da Legião. "Claro que quem quiser achar semelhanças, vai encontrar. Talvez um violão folk, ou a levada do meu piano...", diz o músico, que produziu trabalhos-solos de Renato Russo como "The stonewall celebration concert" (1994), e "Equilíbrio distante" (1995).
Diferente do colega de banda, Fred aposta que as músicas de "O fim da infância" vão agradar em cheio os órfãos da banda. "Nossas letras são muito pessoais, falam de saudade, decepções, da inquietação dos sentimentos... Os fãs da Legião vão se deliciar".
Segundo o guitarrista, a maioria das faixas são inéditas. A exceção fica por conta da regravação de "Virgem", famosa na voz de Marina Lima. "É como se cada um tivesse trazido sua caixa de discos e acrescentado alguma coisa", diz.
Da "caixa de discos" de Carmem, há muita influência do que o irmão superstar apresentou. "A coleção de discos dele parecia sem fim. Ouvíamos muito Smiths, Cure...".
Sobre a comparação com Yoko Ono, até o guitarrista Fred se surpreendeu quando soube da história. "Que estranho o Renato ter dito isso... Se você prestar atenção, vai notar que a voz da Carmem, em alguns intervalos de respiração, é igualzinha a dele"
via G1
"O grande segredo para a plenitude é muito simples: compartilhar." --Sócrates
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