Cat Power se apresentou neste sábado (18) em São Paulo. (Foto: Flavio Moraes/G1)
Palco escuro, vela acesa, incenso queimando. Tudo pronto para a voz de Cat Power rolar macia e acalentar os ouvidos na chuvosa noite de sábado (18), no Via Funchal, em São Paulo.
Em seu primeiro show no país desde o Tim Festival de 2007, a cantora e compositora norte-americana Chan Marshall fez bonito com um repertório repleto de covers, muitos deles desconhecidos, e a mesma banda afiada que a acompanhou em seus shows por aqui há quase dois anos. Desta vez, o The Dirty Delta Blues trouxe um vibrafone na bagagem e não teve medo de ousar nas experimentações, acrescentando a algumas músicas distorções e efeitos.
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Formado pelo guitarrista Judah Bauer (do Blues Explosion), o tecladista Gregg Foreman (do Delta 72), o baixista e vibrafonista Erik Paparazzi (da Lizard Music) e o baterista Jim White (do Dirty Three), o grupo conferiu peso às interpretações lânguidas de Cat Power. A apresentação começou com um cover de "The house of the rising sun", canção americana que ficou famosa na versão da banda inglesa The Animals em 1964. O clima minimalista e introspectivo do início percorreu todo o espetáculo, que terminou com outra versão. A improvável "Angelitos negros", de Andres Eloy Blanco e Manuel Alvarez Maciste, gravada pela cantora de soul Roberta Flack em 1969, foi escolhida para encerrar a apresentação, depois de um generoso bis.
Do repertório já gravado pela cantora, outras boas versões foram "Sea of love" (1959) famosa na voz de Robert Plant, vocalista do Led Zeppelin, e de Tom Waits -, presente no disco "The covers Record (2000), e ainda as belas interpretações lançadas no álbum "Jukebox" e no EP "Dark end of the street" (ambos de 2008). A voz sussurrada e ao mesmo tempo potente de Cat Power é capaz de dar novos ares a clássicos absolutos como "New York, New York", imortalizada por ninguém menos do que Frank Sinatra, e até mesmo a canções interpretadas por divas do jazz, como é o caso de "Don't explain", gravada por Billie Holiday e Nina Simone. "A woman left lonely", "Lord, help the poor and needy", "Lost someone" e "Ramblin' (wo)man" também garantiram excelentes momentos.
Cantora manteve o foco no álbum 'The greatest'
Quem esperava ouvir canções antigas do repertório autoral pode não ter saído muito satisfeito. A exemplo dos shows que fez no país da última vez, Cat Power manteve o foco no álbum "The greatest" (2006), gravado com o guitarrista de Al Green, Teenie Hodges. Talvez por isso o trabalho tenha um certo perfume de soul music, e essa pegada "vintage" também se sobressai ao vivo. Além da faixa-título, incluída na trilha do filme "Um beijo roubado", do chinês Wong Kar-Wai, fizeram parte do show na capital paulista, entre outras, "Lived in bars" e "The moon".
A sonoridade elegante, um misto de blues, country, folk e rock, compensa a falta de comunicação da estrela durante o show. Na noite de sábado (18), tudo o que Cat Power disse foi um tímido "oi". A boa notícia é que a musa indie continua linda, e ainda faz de suas coreografias um charme a mais na apresentação.
"O grande segredo para a plenitude é muito simples: compartilhar." --Sócrates
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