Benito Di Paula, na gravação do CD e DVD ao vivo.
"Não sei o que aconteceu. De repente ninguém me quis mais, a televisão não me chamou mais, parecia que todo mundo morreu". Benito Di Paula, cantor popular que na década de 70 chegou a concorrer com Roberto Carlos nas paradas, diz em entrevista ao G1 não entender o que o levou a ficar 13 anos sem gravar material novo.
O jejum do sambista cigano acaba neste mês em grande estilo, com um CD e DVD gravado ao vivo no Rio de Janeiro. No repertório, sucessos do passado ("Meu amigo Charlie Brown", "Mulher brasileira"), uma homenagem a Tim Maia ("Me dê motivo") e quatro inéditas, como a divertida "Unidos de Tom Jobim".
O show conta também com a participação especial do filho Rodrigo Velozo ("ele canta comigo desdo os quatro anos de idade", lembra Benito), interpretando "Beleza que é você, mulher". As expectativas de venda do cantor são bem otimistas. "Se a minha gravadora fizer um trabalho sério, para vender como se deve, isso é um trabalho para vender um milhão, um milhão é pouco (de cópias). Porque a gente recebe muitos e-mails do Brasil inteiro, de fora do Brasil, pedindo o DVD do Benito Di Paula".
Filho de ciganos, nascido em Nova Friburgo, Uday Veloso começou a carreira cedo, cantando nas festas de família. "Papai formou a primeira escola de samba da cidade, a Unidos da Saudade, e sempre teve reunião de música em casa. Adoniran, Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves, Jacob do Bandolim todo mundo sempre participou da minha infância".
Já com o nome artístico de Benito Di Paula e depois de temporadas em boates e bares no Rio de Janeiro no final dos anos 60, o cantor gravou seu primeiro disco em 1971, mas foi barrado pela censura da ditadura da época o álbum continha a recém-proibida "Apesar de você", canção de protesto de Chico Buarque. "Você imagina que dificuldade, arquivarem o seu primeiro disco. Mas superei isso tudo", recorda.
'Guerra fria'
Para ele, o período sem gravar e sem aparecer na mídia foi pior do que a experiência na época da ditadura. "Eu me senti um pouco deixado de lado. Eu não fiz nada de errado, não tenho culpa no cartório, eu sou um trabalhador. Isso (ficar fora da mídia) me deu um prejuízo danado, meu show passou a valer menos, porque eu não aparecia mais na televisão, as rádios não me tocavam, as gravadoras não queriam me gravar".
"Na época da ditadura, eles (os militares) tinham uma intenção, nós, o povo, outra. Agora, um cara de uma rádio hoje, fazer uma sacanagem dessas com um ser humano, tirar dele o emprego, sabendo que ele tem família para sustentar, é uma sacanagem. E tudo no silêncio, uma guerra fria filha da mãe, porque nenhum dos cornos veio falar comigo para saber como estavam as coisas", dispara.
Por outro lado, Benito diz que os seus fãs continuaram comparecendo aos seus shows. "O público não abandona, o meu público vai, onde quer que seja", diz. O show de gravação do disco, no dia 17 de julho no Vivo Rio, foi lotado. "Eles subestimaram a minha capacidade, ficou gente de fora querendo pagar para entrar!", lembra, estimando o público total em até 4 mil pessoas.
Outro show recente do cantor que superou as expectativas dele foi a apresentação na Virada Cultural em São Paulo, no palco do Largo do Arouche, em maio deste ano. "Eu toquei em algumas Lonas Culturais aqui no Rio, que é um projeto legal. Deveriam ter mais Lonas e deveriam ser de graça, porque é o nosso dinheiro lá. Essa Virada Cultural é legal por isso, porque é de graça para o povo".
Benito já faz planos para o futuro, após a inevitável turnê do "Ao vivo". "O que eu mais quero fazer é um disco inteiro de músicas inéditas. Eu quero gravar Zeca Pagodinho, outros autores que eu gosto, e faixas minhas também".