Já esteve em Portugal diversas vezes e regressa agora para um concerto no Cool Jazz Fest. De que se lembra das experiências cá, do público, país?
Estive em Lisboa, estive no Algarve e lembro-me que é um país lindíssimo e o público muito acolhedor. Portugal é daqueles sítios, já sei que vou gostar quando visitar a fundo e ainda não tive oportunidade. E infelizmente também não é desta, viajo logo a seguir, agenda muito apertada.
A sua história é magnífica, começou a cantar nas ruas de Paris por amor à música. Actuar ao vivo, no formato em que o faz hoje, ainda lhe dá a mesma 'pica'?
Acho que sim. Sobretudo em festivais de jazz. Há qualquer coisa num festival de jazz, na partilha, no interesse no amor das pessoas da música que me lembram isso, essa liberdade.
Das inúmeras e inevitáveis comparações que lhe vi fazerem, a mais recorrente é com Billie Holiday. Com quem prefere ser comparada, ou gostava de não o ser de todo?
Bem, é impossível não gostar de ser comparada com alguém como a Billie, é uma das grandes, de sempre. Dito isto as comparações são complicadas sim, a certo ponto começamos a gostar de ser vistos com... individualidade.
E depois de ter colaborado com inúmeros artistas, com quem ainda gostava de trabalhar?
Com alguém do hip-hop [risos]. Sério, é uma ideia antiga! Há umas coisas interessantes na label do Justin Timberlake. Não digo daqueles hip-hoppers ou rappers da moda, mas alguém que use o hip-hop como poema, como mensagem.
Bare bones foi a sua primeira experiência a compor e agora em Standing On the Rooftop volta a fazê-lo, quais os maiores desafios que encontra a compor?
É uma pergunta difícil... talvez tentar criar em música tudo o que sinto e oiço, gosto e escrevo, eliminar os excessos. Por isso rodeio-me sempre de pessoas que me ajudam nesse processo.
Este disco parece ter mais identidade, sente que já descobriu a sua identidade musical?
Não totalmente, diria que não totalmente, há sempre muito a experimentar, a descobrir, mas para lá caminho.
Tem um cuidado consciente de manter a sua música ligada aos clássicos de raízes americanas?
Não consciente, mas está sempre lá. Assim como tantas outras influências...
A poesia - usa um poema numa canção - e a literatura são para si fontes de inspiração?
Sim, sem dúvida nenhuma.
Mas considera-se uma story teller, gosta desse lado da música?
Sem dúvida, acho que os músicos são mesmo para passar uma mensagem, uma mensagem qualquer, têm de ter algo a dizer.
Em Bare Bones tinha um tema usado no apoio a Barack Obama, sente que a música pode e deve ser política, activista?
Não necessariamente, não assumidamente, mas a música é um meio de expressão e se temos algo a dizer, não concebo não o pormos na nossa própria música.
No novo disco como surgiram as colaborações com Marc Ribot e Bill Wyman?
Partiu deles, em ambos os casos, e fiquei muito lisonjeada. Nem queria acreditar que quisessem trabalhar comigo, como outros músicos talentosos têm querido...
Além da música, para que vive Madeleine Peyroux?
Sobretudo para a música, tenho de confessar. A música é tudo, salvou-me a vida. Nada se compara, nem cinema, literatura, escrever... bem, talvez escrever esteja agora num segundo próximo...
"O grande segredo para a plenitude é muito simples: compartilhar." --Sócrates
Música é vida!