Roger Waters iniciou a turnê brasileira de “The Wall” na noite deste domingo (25), em Porto Alegre, deixando o público eufórico e intrigado com as mensagens questionadoras. À frente de uma orquestra audiovisual, o grande maestro britânico, fundador do Pink Floyd, tocou para milhares de fãs no Estádio Beira-Rio por duas horas. Pela primeira vez a América Latina recebe a ópera-rock especialmente desenhada para estádios, com shows de efeitos especiais e imagens intrigantes. "The Wall" passa ainda por São Paulo e Rio de Janeiro.
Bastou subir ao palco às 20h40 e iniciar “In the Flesh?” para hipnotizar as pessoas que, caladas, ouviam aos acordes agudos através dos 172 alto-falantes. Gritos e vozes murmurando, vindas das caixas de som, confundiam a multidão. A confirmação de que aquele seria um espetáculo único veio com a descida de uma réplica de avião militar por cima do público, chocando-se com o muro que dá nome a turnê. Fogos, fogo e explosões completaram o ato.
O grande feito de Roger Waters é conseguir tornar um espetáculo de 30 anos atual. Na segunda música, “The Thin Ice”, imagens de pessoas mortas injustamente em conflitos contra o estado ou guerras aparecem no muro que se estende pelos 137 metros de largura de palco. Em “Another Brick in the Wall Part 2” uma turma de crianças da ONG Canta Brasil, de Canoas, Região Metropolitana de Porto Alegre, dançou e apontou para um grande boneco que representa a repressão da escola na imagem de um professor. Em suas camisetas, a frase “muros constroem o medo” dá o significado às mensagens de Waters.
O músico dedicou o show ao eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes, morto em 2005 por policiais britânicos ao ser confundido com um terrorista. “Brasil, estou muito feliz de estar aqui. Gostaria de agradecer às crianças do Canta Brasil e dedicar este show para Jean Charles e sua família, e a sua luta pela verdade e justiça”, ressaltou em um português impecável. Antes de entrar em cena, Rogers Waters se encontrou com a família do jovem no camarim. "Foi um prazer enorme. Mostra que ele ainda está vivo na memória das pessoas", contou o pai de Jean Charles, Matozinhos de Menezes.
A seguir, a conhecida “Mother” trouxe outro boneco flutuando sobre o palco, além da imagem do telão ser de um vídeo de quando Roger Waters ainda estava ao lado do Pink Floyd. Em “What Shall We Do Now?”, frases refletidas no muro respondem às questões que a música levanta. O bom humor intrigante surge quando, na canção, ele pergunta “Devo concorrer a presidente?” e o muro responde através de palavrões. Aos 45 minutos de show, em “Young Lust”, o muro está finalmente construído e a banda passa a tocar a frente dele. Os efeitos que ameaçam quebrar a divisão palco-público a todo instante continuam até o intervalo, que durou cerca de 20 minutos.
No segundo ato, Waters e banda retornam atrás do muro com “Hey You”, deixando o público em êxtase. Os limites e os sentidos humanos são colocados em questão, quando apenas os ouvidos conseguem captar os tons e os olhos ficam à mercê da tecnologia. Em “Nobody Home”, alguns tijolos saem e, em um quarto de hotel, Waters canta em frente a uma televisão com imagens de guerra. Em “Confortably Numb”, uma das músicas mais esperadas, o estádio levanta em coro e alguns músicos da banda sobem até o topo do muro, fazendo suas performances e solos da guitarra.
A partir dali, o espetáculo se desenha para o final e o muro é derrubado. A última música, “Outside the Wall”, traz todas a banda a frente do palco, acalmando os ânimos do público em delírio e prometendo um mundo mais justo, sem limitações e barreiras. Na saída, o coro do público perde as notas de Roger Waters e passa a ser: "Agora já posso morrer em paz!", diziam os fãs, enquanto deixavam o estádio.
Posted by Viviani Corrêa
@ segunda-feira, 26 de março de 2012
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