Desde que iniciou a parte sul-americana da turnê comemorativa dos 30 anos de lançamento do álbum "The wall" que o cantor Roger Waters vem dedicando shows ao brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por policiais britânicos em Londres, em 2005, ao ser confundido com um terrorista. Já havia sido assim em Santiago, no Chile, e em Porto Alegre, no último domingo (25). Em sua apresentação no Estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro, na noite desta quinta-feira (29), não foi diferente.
"Gostaria de dedicar este concerto a Jean Charles, sua família e sua luta por verdade e justiça; e também a todas as famílias das vítimas do terrorismo de estado em todo mundo. 'The wall' não é sobre mim, mas sobre Jean e todos nós", disse o músico em bom português.
Ok, o discurso não foi inédito. E o roteiro da apresentação foi rigorosamente mantido tal qual o restante da turnê. Mas, mesmo sem surpresas, o tecnicamente irrepreensível show do ex-líder do Pink Floyd não deixou de impressionar e emocionar as cerca de 50 mil pessoas, que não chegaram a lotar o estádio. Waters usa de toda a tecnologia a seu alcance e cria uma incrível identidade visual para a obra composta por 26 canções quase que inteiramente compostas por ele e executadas pela banda no álbum duplo de 1979.
São explosões, rajadas de metralhadora, fogos de artifício, bonecos infláveis, telão e efeitos sonoros reproduzidos em um sistema de som poderoso, disposto como uma espécie de home theater gigante. Isso sem contar o imenso muro de tijolos brancos que, erguido durante o espetáculo, recebe uma série de projeções e efeitos, além da imagem dos próprios músicos em ação no palco.
Na primeira parte do show, um avião desgovernado "explode" ao se chocar contra o muro em "In the flesh?", número que abre o show. No hit "Another brick in the wall, pt. 2", participação das crianças da Escola de Música da Rocinha, vestidas com camisetas com a mensagem “o medo ergue muros”, em inglês. O momento mais divertido do show acontece em "Mother", em que Waters faz dueto com ele próprio em imagens datadas de 1980. Durante o verso "Mother, should I trust the government?" ("Mãe, eu devo confiar no governo"?), um escandaloso "nem fudendo" (sic) é projetado no telão, arrancando imediatos aplausos do público.
Depois dos cerca de 20 minutos de intervalo, tem início a parte dois. Mais emotiva e teatral, leva diversas pessoas na plateia às lágrimas em momentos como em "Hey you", onde o muro já totalmente erguido esconde Roger e sua banda; em "Vera", ilustrada por comoventes imagens de reencontros; com "Bring the boys back home" e seu grandiloquente arranjo orquestrado; e a clássica "Comfortably numb", com dois antológicos solos de guitarra. Quase não dá para sentir a falta de David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright, ex-companheiros de Waters no Pink Floyd. Quase.
O músico acerta ao misturar novas animações tridimensionais com as do desenhista Gerald Scarfe, criadas originalmente para os shows da banda durante a turnê original do álbum e incluídas posterirmente no longa-metragem "Pink Floyd—The wall" (1982), do diretor Alan Parker. É o que acontece na assustadora "The trial", onde é o sincronismo entre som e imagem que impressiona.
O encerramento vem com a acústica "Outside the wall", executada com ukulele, banjo, acordeão, violão e trompete. "Obrigado, Rio. Vocês foram uma plateia magnífica", despediu-se Waters, que se apresenta no Estádio do Morumbi, em São Paulo, nos dias 1º e 3 de abril.
Posted by Viviani Corrêa
@ sexta-feira, 30 de março de 2012
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