Com 15 produtores, três intérpretes convidados e cinco compositores
parceiros, o novo álbum de Zeca Baleiro, “Disco do ano”, é uma ode à
camaradagem. O cantor chamou músicos e amigos que admira e fez seu nono
trabalho a dezenas de mãos.
Zeca não nega o temor inicial ao optar por inovar e lançar um disco
cheio de bedelhos. “Tive receio, mas acho que todos os meus discos são
um pouco esquizofrênicos. Já perdi o medo.” Para ele, o álbum tem
unidade e é uma produção tão sua quanto as demais. “Minha identidade
está lá da mesma maneira. As participações não mudam nada.”
Desde 2008 sem dar ao mercado um trabalho de inéditas, Zeca foi
armazenando material ao longo dos anos até sentir que tinha um conjunto
de canções interessante para gravar. A produção loteada priorizou os
músicos da banda e demais amigos conquistados ao longo da carreira. “Os
rapazes da banda estão comigo há muito tempo e são ótimos produtores,
queria ser produzido por eles. Tem muita gente boa e, ainda assim,
ficaram pessoas interessantes de fora. Quem sabe não repito a estratégia
no próximo álbum?”
Os selecionados
Nos vocais, o cantor divide os microfones com Margareth Menezes, no
reggae romântico “Último post”. Fã da cantora - definida por ele como
“a mais adorável das baianas", o duo era um projeto antigo.
No rap “O desejo”, Zeca Baleiro insiste na parceria com Chorão, de quem
já regravou “Proibida pra mim” – escolha que o fez ser massacrado pela
imprensa, segundo suas recordações. “Na época em que gravei a música
deles eu fui muito criticado. Eles eram infames mesmo, mas eu gostava da
música e queria fazer uma releitura. Fui incompreendido. Hoje eles têm
mais maturidade e talvez sejam a única banda rock em atividade no
Brasil.”
Emicida
foi cotado para a mesma vaga, mas por ser figura recorrente em
parcerias, Zeca achou melhor deixar para uma outra oportunidade.
“Embora eu goste muito dos trabalhos do Emicida, neste momento, ele é
alvo de muitas parcerias. O Chorão entende de rap, e é um cara que eu
admiro. Somos amigos de encontros em aeroportos. Ele deu trabalho para
decorar as letras, demorou pra gravar, mas o resultado foi ótimo."
Andreia, cantora da nova safra de MPB, completa a trinca de intérpretes
presentes no disco. Nas composições, ele reedita uma antiga parceria
com Frejat (“Nada
além), e outra com Hylton (“Calma ai coração”) – as únicas que não são
inéditas. Kana, uma japonesa radicada no Brasil, a poetisa Lúcia Santos,
e o músico e compositor Wado também participam do “Disco do ano”.
O nome do novo trabalho é uma sátira a indústria cultural. Zeca rechaça
os rankings musicais na canção "Mamãe no face." As demais mantêm o tema
de amor, relacionamentos e análises do cotidiano presentes nos antigos
trabalhos do artista.
Embora dê de ombros às criticas e não tenha a pretensão de encabeçar a
lista dos discos do ano, ele condena as injustiças provocadas pelos
formadores de opinião.
“Não faço parte dessas listas e já estou acostumado com isso. Nunca
quis ser uma unanimidade, mas não gosto de injustiças e desconfio dos
critérios dessas listas. Eu queria provocar os formadores de opinião, as
pessoas abelhudas, e questionar essas eleições.”
Durante o show, outra estilingada em forma de canção pode render a Zeca
Baleiro um lugar nos top 10. Em “Funk da lama”, o alvo são as múscas
coreografadas. “Eu sinto que brasileiro gosta de uma coreografia. Não
queria ficar pra trás, por isso, fiz essa canção”, disse Zeca durante
show para imprensa e convidados no HSBC, em São Paulo, no dia 16 de
abril.
Tanto a letra engraçadinha quanto a dança – que mistura passos do axé,
funk e até a clássica macarena – são de autoria de Zeca Baleiro. Na
encenação, os integrantes da banda deixam seus instrumentos e, ao lado
do cantor, reproduzem os passinhos. O refrão “Vem, cachorra, nem precisa
de cama”, impregna a mente feito “Ai se te pego” e é reproduzido
rapidamente pelo público. A música, entretanto, ficou fora do disco e só
pode ser ouvida nas gravações feitas pelos fãs e postadas no Youtube -
em menos de uma semana da estreia do cantor nos palcos, o site ja soma
mais de dez opções de vídeos.
A tecnologia, aliás, está presente não apenas nas canções. Embora
avesso às redes sociais, Zeca Baleiro criou um blog no qual dividiu as
angústias e alegrias de sua produção em pequenos vídeos. Por meio de
votação na internet, os seguidores do cantor também puderam escolher a
capa do CD que mais agradava. As três opções de fotos compõe o álbum na
ordem em que foram votadas.
Apesar da relação de amor e ódio com a web, Zeca revela intimidade com o
meio. Segundo ele, a ideia inicial era fazer do disco uma pen drive e
comercializá-la nos shows. O desejo foi adiado após ser seduzido por uma
boa proposta da gravadora Som Livre. Embora tenha mudado os planos, ele
ainda planeja disponibilizar o álbum completo para download em seu
site, como sugere o final da canção “Mamãe no face”: “faz o download e
baixa o disco aí. ”
Posted by Viviani Corrêa
@ terça-feira, 24 de abril de 2012
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