Para entrar no caminho de Deus é preciso enfrentar fila. Na maioria
das vezes, retenções (de pessoas) que, em bondes, querem chegar à pista
principal "no passinho, no passinho, no passinho dos varões" (como são
chamados os homens evangélicos) ou no das varoas (as mulheres). Tudo
para (re) encontrar o amado, Jesus Cristo, nos bailes gospel que atraem
cada vez mais cristãos para a noite carioca.
Um deles ocorre todo
mês no ginásio do Bangu Atlético Clube, onde jovens de 12 anos a
pastores de 60 dançam ao som do tamborzão, até as 6h, no Baile Gospel Os
Cocadas (o nome é em alusão aos cristãos mais animados). A balada é
organizada pelos MCs convertidos Leozão e Diego e pela mulher de Leozão,
Bruna Martins, com o apoio da Ministério Libertos para Adorar, uma
igreja sem espaço físico (só espiritual), aberta há um ano.
— Aqui não há bebida, sexo nem drogas. Sinto que a cada mês a
frequência no baile cresce 10%, sendo que 30% dos frequentadores não são
evangélicos — afirma o pastor Alessandro Annechine, que não foi ao
último baile, no dia 19 de maio, porque é militar e estava de plantão.
O
clube, que é aberto às 22h, enche de repente, como num "milagre", por
volta da meia-noite. Na fila chegam meninas "daquele jeito: de, de
sainha" vestida por cima de legs e calças jeans, é claro. Nos pés,
prevalecem tênis esportivos e sapatilhas.
— Não usamos nada que
provoque escândalo, ou seja, que deixe pernas e bumbum à mostra. Mas a
vaidade feminina não é um pecado. Só que não me produzo para uma noitada
e sim para adorar — diz a estudante Fernanda Doria, de 23 anos.
A recepcionista Monique Gomes, de 19 anos, emenda:
— Isso não é uma exigência da igreja. Nossa intenção é chamar a atenção de Jesus — afirma Monique.
Quem
não paga R$ 15 (o valor do último lote de ingressos para homens e
mulheres) pode ficar mais perto de Deus, no segundo andar do clube, em
um dos três camarotes a R$ 20 (a vantagem são mesas, cadeiras e vista
privilegiada para o palco). A noite, que começa com hip-hop e charme, só
é interrompida depois da meia-noite para uma pregação.
O DUELO NO BAILE
—
O propósito do baile gospel é ganhar pessoas para fazer delas
discípulos. A igreja entende que Deus é criador de todos os estilos. O
funk ou o eletrônico são atrativos. As pessoas vêm, Deus enlaça o
coração e elas se rendem — diz Valmer Ferreira, palestrante do último
baile.
Com a presença de Deus invocada, o funk começa com direito a
cascata de fogos no palco e até a 16 "foguetinhos" sobrevoando o
público. E as batidas funk são tão potentes como as ordens para aceitar
Jesus.
Com músicas como "Faz o C com a mão", Diego e Leozão travam um duelo cantando: "O nome dela é Teresa. Minha avó tá na igreja".
Posted by Viviani Corrêa
@ segunda-feira, 4 de junho de 2012
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