Nesse dia 16 de agosto chegamos a 35 anos da morte do Rei do rock. Confira dicas de CDs, DVDs e livros que enfocam o ídolo nos anos 70
Lembro claramente da comoção que tomou conta do mundo naquela época. As incessantes reprises de seus filmes, as músicas tocando no rádio, o Globo Repórter especial, a última apresentação passando em todos os canais e as revistas e pôsteres nas bancas. O nome de Elvis Presley continua em voga e a finitude de sua imagem nos parece muito improvável. Como possivelmente a grande enfoque das plataformas de comunicação desse data que relembramos a morte do Rei do Rock, passem basicamente pelo trabalho de Elvis nos anos 50, o blog recupera (e atualiza) uma matéria publicada no Diário de Santa Maria que fala principalmente dos últimos 9 anos do trabalho (1968-1977) de um dos maiores artistas do século XX.
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Os últimos dias do Rei
No início da década de 70, Elvis Presley (1935-1977) era novamente a bola da vez na música pop mundial. O cantor havia demarcado seu retorno às apresentações ao vivo de forma triunfal. O pontapé se dera no lendário 68 Comeback Special, um especial de final de ano na TV em que o público pôde perceber que o Rei do rock’n’roll não havia sido deposto do trono. Nesse show, o músico estava mais uma vez acompanhado da banda original dos anos 50, revisitando com inteligência grande parte do repertório clássico do início de sua carreira, e mais: - cantando como nunca após sete anos de ausência dos palcos. Presley estava decidido encerrar sua medíocre passagem por Hollywood e tinha planos de voltar a colocar o pé na estrada, em consequentes turnês que o arrastariam de forma avassaladora até o fim de sua vida.
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Um astro excêntrico
Na verdade, a grande maioria dos resumos biográficos de Elvis Aaron Presley obstrui algumas verdades e supervalorizam muitas das lendárias esquisitices. Diversas histórias são mitológicas. Quem mais além dele fretaria um avião a Denver apenas para comer um sanduíche de geléia e manteiga de amendoim? Quem mais compraria 14 Cadilacs em apenas um dia, sendo que um deles foi entregue de presente para uma senhora desconhecida que apenas olhava a vitrina? Elvis era aficionado por armas de fogo e gostava de praticar tiro ao alvo nos aparelhos de TV e interruptores de luz de sua mansão. Tornou-se um hipocondríaco incorrigível e chegou a tomar mais de 30 tipos de medicamentos durante um único dia (Amital, Qualude, Dexedrine, Percodan e Dicaudid eram alguns deles). Entre suas reais doenças, o Rei sofria de glaucoma e de cólon paralisado devido ao excesso de comidas gordurosas.
Repertório renovado
Se na década de 50, Elvis desafiou com genialidade intuitiva o “american way of life”, durante os anos 60 ele parecia cooptado pelo sistema. Entretanto, na década final de sua existência, dá pra dizer que Elvis era o sistema. Se procurarmos uma data emblemática pós 68 Comeback Special, esse dia seria 31 de julho de 1969, quando o Rei retornou aos palcos de Las Vegas, após uma exaustiva sessão de 12 dias de gravações no American Studios em Memphis. Sob a batuta do produtor, fã e amigo Felton Jarvis, e do exigente Chips Moman, surgiram dezenas de canções nunca antes vistas no repertório do cantor.*
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Destaque para Suspicious Minds (um de seus principais cavalos de batalha a partir de então). Já em In The Gheto, denotava-se uma rara incursão do Rei pela temática social. Até mesmo Power of Love parecia uma clara reaproximação com seu passado recente e um evidente flerte com o rhythm & blues. Dessas gravações, surgiram vários compactos e, principalmente, um álbum conceitual que devolveria sua credibilidade artística frente à crítica e público. Era From Elvis In Memphis, um dos grandes consensos da crítica como ponto alto de sua carreira.
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Tempos de soul
O epicentro dessa renovação foi capturado no show-documentário That’s The It Is(1970), um registro definitivo que apresentava Elvis e sua banda em todas as nuanças que moveram o turbilhão em sua volta naqueles tempos. Dos bastidores aos holofotes, vários aspectos foram cuidadosamente explorados no filme, que se tornou um sucesso absoluto nos cinemas de todo o mundo. O filme deixou bem claro para o show business que a “marca Elvis” ainda era um produto confiável e rentável.
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E Elvis parecia incansável, pois nessa época a maratona de gravações continuava desafiadora. Em apenas cinco dias, gravou mais de 35 canções com sua nova banda de apoio nos estúdios da RCA. Mais hits surgem desta safra, entre eles temas definitivos do seu set list, como Stranger in The Crowd, Mary in The Morning, Silvia (um estrondoso sucesso nas paradas brasileiras da época!) e I’ve Lost You. O tempero negro estava evidente em muitas dessas canções, acentuado pelo quarteto vocal feminino Sweet Inspirations. Sem falar na banda, que havia sido escolhida a dedo pelo músico.
O virtuoso James Burton (ex- Ricky Nelson) era o guitarra líder; a cozinha contava com o baterista Ronnie Tutt (que também passou pela banda de Gram Parsons) e Jerry Scheff (baixista dos Doors no álbum L.A. Woman). Completavam o time o guitarrista John Wilkinson e o pianista e arranjador Glen D. Hardin (que depois comandaria a banda da musa country Emmylou Harris). E não se esqueçam do quarteto vocal comandado por J.D. Sumner e uma orquestra sob a regência do maestro Joe Guercio... Ufa! E o rock’n’roll comia frouxo nos espetáculos. Um exemplo disso é o formidável e contagiante Elvis as Recorded at Madison Square Garden, de 1972, retorno triunfal do cantor a New York. O formato do show básico estava definido: abertura apoteótica a lá Mohamed Ali com o tema do filme 2001 Uma Odisséia no Espaço.
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See See Rider (ou That’s All Right) iniciava os trabalhos com um pé nos anos 50, mas com a cara dos 70; Proud Mary (o hit do Creedence Clearwater Revival) mostrava que o Rei estava definitivamente sintonizado com o novo rock da época. Never Been To Spain (sucesso absoluto do Thre Dog Night) denotava que a soul music seguia circulando cada vez mais forte em suas veias. E aí a coisa seguia, oscilando baladas e temas mais agitados, até a canção de despedida Can’t Help Falling in Love. Logo depois a banda e a orquestra tocavam uma variação instrumental de See See Rider. Os flashes das máquinas fotográficas o bombardeavam enquanto os guarda-costas Sonny & Red West o escoltavam são e salvo até um Ford Lincoln. Depois, uma voz anunciava: “Elvis as left the building, good night!” (Elvis acaba de deixar o prédio, boa noite!), e no dia seguinte toda a história se repetiria. Ele e sua banda chegaram a fazer uma média de 130 shows por ano entre 1972 a 1977. Às vezes, seriam dois no mesmo dia – e dá-lhe boleta pra segurar a onda!
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O início do fim
Aloha From Hawai foi visto via satélite na TV por mais de 1 milhão de pessoas em todo o mundo. Nesse show, Elvis ainda estava em forma, vestido como um autêntico super-herói das histórias em quadrinhos. Roupa especial (Eagle Jumpsuite branco), anéis, cinturão e até uma capa! Quando foi eleito um dos setes jovens do ano, no seu discurso de agradecimento deu uma das mais famosas declarações: “Eu queria que vocês soubessem que eu fui o herói dos gibis. Assisti a filmes e eu era o herói do filme. (...) Gostaria de dizer que aprendi muito cedo na vida que, sem uma canção, o dia nunca terminaria... Sem uma canção, um homem não tem amigo... Portanto, eu apenas continuo cantando a minha canção”.
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Entretanto, após o show do Hawai, Elvis pareceu embaçar novamente o foco artístico e começou a se perder em algumas repetições, tanto em shows, quanto nos álbuns. Na verdade os problemas de saúde também se tornam cada vez mais freqüentes. É nessa época que sua “persona” toma uma forma caricata de rock star, que seria para sempre vinculada ao rol das imagens definitivas da decadência física (e artística) do arquétipo do rock star. Ao engordar assustadoramente, a lista de remédios também aumenta. Ainda que, no final das contas, o rei sempre tenha sido um homem vaidoso, as coisas já estavam fugindo do seu controle no aspecto físico e psicológico.
Principalmente quando se divorciou oficialmente de Priscila Beaulieu, em 11 de outubro de 1973 – nesta época, estava namorando a ex-miss Tennesse Linda Thompson. Não era fácil ser Elvis Presley 100% do tempo e ainda manter a fama de bonitão. Mas ele não jogava a tolha, assim como a maratona de shows não diminuía (sempre com lotações esgotadas!). Mas se formos traçar um paralelo entre espetáculos de 1974 a 1977, as variações de repertório são muito pequenas. Ou seja: Elvis praticamente não renovava seu set. Em fevereiro de 1976, a RCA cobrou do cantor gravações novas de estúdio, já que seu catálogo passava a ser sustentado quase exclusivamente por coletâneas e registros ao vivo (havia lançado nada menos do que sete LPs ao vivo num intervalo de cinco anos!).
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É nessa época que sua gravadora disponibiliza ao artista todo um suporte técnico para montar um estúdio no porão de sua própria mansão. O estúdio seria batizado de Jungle Room, e foi nele que surgiram as canções Blue Eyes Crying in The Rain, Way Down,Moody Blue, For The Heart e Solitaire. Antes de voltar a cair na estrada em 1977, Elvis deu uma de suas últimas declarações à imprensa: “Pretendo continuar fazendo shows enquanto eu puder. Sou grato por toda essa lealdade, mas é assustador. O que virá depois?”. Em 26 de junho, Elvis Presley sobe pela última vez aos palcos, em Indianápolis.
O fim da linha
Início da tarde de 16 de agosto de 1977. A namorada do Rei o encontra no piso do banheiro de Graceland, deitado em posição fetal e com rosto colado ao chão. Gilger Alden chama a ambulância... Mas já era tarde! Elvis é declarado morto às 15h30min. Causa da morte: parada cardíaca.
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No início deste século, A Little Less Conversation virou sucesso nas pistas de todo o mundo na versão do DJ holandês JXL e também ajudou a alavancar o filme Onze Homens e Um Segredo. A coletânea Elvis 30 # 1 Hits tornou se um dos discos mais vendidos de todos os tempos em 2002. Ano passado, Suspicious Minds foi hit em versão 2011 na novela da rede Globo Insensato Coração, assim como Viva Elvis, espetáculo do Cirque De Soleul ainda leva milhares de pessoas a reviver a obra do artista. Existem rostos que pertencem ao domínio público do inconsciente coletivo da humanidade: Jesus Cristo, Buda, Chê Guevara, Pelé... Elvis Presley! É provável que nem mesmo o próprio artista soubesse da sua capacidade de permanecer presente durante tanto tempo em nossas vidas.
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Ouça, leia e veja
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Discografia recomendada dos anos 70:
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Elvis On Stage (1970) – Bem-vindos aos anos 70. Sweet Caroline e I Can’t Stop Loving You fazem parte desse disco.
Elvis On Stage (1970) – Bem-vindos aos anos 70. Sweet Caroline e I Can’t Stop Loving You fazem parte desse disco.
That’s The Way It Is (1970) – Faixas de estúdio intercaladas com gravações ao vivo. Trilha sonora do filme Elvis Era Assim (como foi batizado por aqui)
Elvis Country (1971) – Elvis nas terras do leite e do mel. Segundo grande parte da crítica americana, trata-se do seu trabalho mais significativo nos anos 70
Elvis Now (1972) – De volta ao topo. Outdoors gigantes com a capa do disco invadiram as ruas de Nova York
Elvis As Recorded Live At Madison Square Garden (1972) – O supra-sumo de Elvis nos palcos. Um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos, segundo a revista norte-americana Spin
Raised On Rock (1973) – Ray Charles ou James Brown poderiam ter gravado alguns temas desse LP. Soul music de primeira que na época foi um fiasco comercial. Hoje o álbum é reverenciado com um dos melhores álbuns "soul" do artista
CDs não-oficiais disponíveis em alguns sites internacionais:
Elvis Opening Night Jan. 26, 1972 – O primeiro show em Las Vegas na turnê mais bem-sucedida do Rei. É dessa época o documentário Elvis On Tour, realizado para registrar o ápice da Elvismania
Elvis If You Talk In Your Sleep (1974) – Entediado com a rotina de Vegas, Elvis renova totalmente seu repertório. Oportunidade única para ouvir ao vivo canções de primeira grandeza, como Good Time Charlie’s Got The Blues, I’m Leaving e a faixa-título
The Jungle Room Sessions (1976) – As últimas gravações do Rei nos porões de sua mansão em Memphis
Literatura recomendada sobre os últimos dias de Elvis:
Elvis Presley – Vamos dar Uma Festa, de Ayrton Mugnaini Jr (Ed. Biblioteca Musical). Todos os podres do Rei sem enfeites ou rodeios
Elvis Presley e a Revolução do Rock, de Sebastian Danchin (Editora Agir)Relatos da infância miserável, da revolução causada nos anos 50 (quando Elvis detonou a explosão mundial do rock'n'roll), da involução dos anos 60 (com filmes e músicas de baixa qualidade) e da agonia existencial dos 70, década que culmina com um Elvis inchado e morto no banheiro porque seu coração não suportou as doses de pílulas diárias e a consciência de que o Rei do Rock havia perdido a coroa ao se transformar numa paródia de si mesmo.
Elvis & Eu, de Priscilla Beaulieu e Sandra Harmon (Editora Rocco) – Apesar de estar separada de Elvis quando ele morreu, Priscilla é considerada a viúva oficial do astro, e por isso tem propriedade para relatar seus dias de reinado e sofrimento ao lado do ex-marido. Alguns bons momentos e outros sofríveis, entretanto, o cotidiano e as angústias do artista são compartilhadas com os leitores sob o ponto de vista de Priscilla.
Elvis, de Odair Jr (Ed. Abril) – Um belo resumo dos fatos
Elvis Presley – A Vida na música, de Ernst Jorgenses (Editora Larousse) – tudo sobre a obra do cantor e aquilo que rolava durante as gravações. Sem fofocas sobre sua vida particular, eis também o mais completo relato sobre o dilema artístico do cantor na década de 70
Filmografia Indicada:
Elvis On Tour (1972) – Que saudades dos anos 70! O Rei e seus súditos perdidos na Elvislância.
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"O grande segredo para a plenitude é muito simples: compartilhar." --Sócrates
Música é vida!