No meio da década de 1990, a dupla emergente no cenário funk carioca
Claudinho e Buchecha chegou para gravar pela primeira vez com o já
popular DJ Marlboro. Vestidos com jaquetas, correntes e outros
acessórios, causaram ruídos no som ao dançarem no estúdio. Como solução,
veio o ordem inusitada do anfitrião — quase um trote nos “calouros”:
teriam que continuar a gravação só de cueca. "Marlboro é um sacana.
Ainda ficou ameaçando que ia mostrar as fotos para todo mundo", lembra
Buchecha, aos risos.
A história, confirmada com orgulho pelo DJ, é uma das muitas que
conduzem o musical “Funk Brasil – 40 anos de baile”, que estreia nesta
quinta-feira (9) no Teatro Miguel Falabella, na Zona Norte do Rio de
Janeiro. De forma cronológica e ao som de 64 hits, o espetáculo
coescrito por Pedro Monteiro — que também atua — e João Bernardo
Caldeira, com direção de Joana Lebreiro, narra a trajetória do ritmo a
partir dos Bailes da Pesada de Big Boy e Ademir no Canecão, no início da
década de 1970, com base no livro "Batidão — Uma história do funk", de
Silvio Essinger.
"Vou me emocionar bastante [com a peça] porque que vou ver minha
história. Estou com 20 anos de funk, metade disso aí eu faço parte",
comenta Buchecha, que era pagodeiro e foi convencido pelo parceiro
Claudinho (1975-2002) a fazer funk e participar do Festival de Galeras
no Clube Mauá de São Gonçalo, no início dos anos 1990 — ficaram em
terceiro lugar com "Rap da bandeira branca" em 1993 e venceram com "Rap
do Salgueiro", dois anos depois.
A dupla é representativa da década que consolidou o funk carioca, em
movimento iniciado a partir do lançamento do CD "Funk Brasil", do DJ
Marlboro, em 1989. "Sinto orgulho de ver que a galera não está deixando a
peteca cair. Acho que o funk já fincou as bases e está muito bem
quisto. Não ficou estagnado como um ritmo só para suburbano", acrescenta
Buchecha.
De fato, o estilo que nasceu nas favelas, dando voz às comunidades,
conquistou fãs em todas as classes e venceu o preconceito. Antes
restritos aos bailes e às vezes vinculados ao tráfico, hoje os hits
fazem parte até de trilha sonora de novela, caso de "Danada vem que
vem", do MC Koringa, tema da "piriguete" Suelen, personagem de Ísis
Valverde em "Avenida Brasil".
"Foi através do funk que eu conheci a favela pela primeira vez. Tinha
15 anos, por volta de 1992. Foi o momento em que estourou o 'alô Pirão,
alô alô Boavistão'", lembra Pedro Monteiro, em referência ao "Rap do
Pirão", do MC D'Eddy.
Pedro, que já rodou o país com a peça "Os ruivos" e fez sucesso em um
comercial de cerveja no qual contracena com Beto Barbosa vestido com um
blazer e uma pochete, ao som de "Adocica", teve a ideia de realizar o
espetáculo em 2007, ao assistir a performance na Estação Leopoldina, na
Zona Norte do Rio.
"Fiquei olhando para aquilo e vi que não tinha nada a ver com quem
frequentava o vagão do trem. Queria fazer alguma coisa para aquelas
pessoas. Aí veio a luz de contar a história do funk", explica. "É como
se fosse em um baile mesmo, ninguém sai de cena."
"Funk Brasil - 40 anos de baile" fica em cartaz até 30 de setembro, de
quinta a domingo, às 18h. Os ingressos custam R$ 30. Além de Pedro,
estão no elenco Alex Gomes, Cintia Rosa, Dérik Machado, Julia Gorman e
Marcelo Cavalcanti.
Posted by Viviani Corrêa
@ quinta-feira, 9 de agosto de 2012
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