Romulo Fróes apresenta 'No chão sem o chão'. (Foto: Divulgação)
"No chão sem o chão" é provavelmente o lançamento mais ousado na música brasileira este ano. O álbum duplo com 33 músicas e quase 120 minutos de duração é o mais novo trabalho do músico paulistano Romulo Fróes, 38. Partindo do samba triste em direção ao rock psicodélico, ele faz show em São Paulo nesta quinta (30) no Teatro do Sesc Pompeia. As cantoras Mariana Aydar e Nina Becker e o pianista André Mehmari estão entre os convidados.
O primeiro disco, mais nervoso, foi chamado de "Primeira Sessão: Cala Boca Já Morreu"; e o segundo, mais calmo e solto, de "Segunda Sessão: Saiba Ficar Quieto". Se antes as canções eram protagonistas, agora estão em primeiro plano os arranjos incomuns propostos pelo artista e o peso da banda interferindo nas músicas.
As letras são dos artistas plásticos Clima e Nuno Ramos, que acompanham Romulo em "Calado" (2004) e "Cão" (2006). Quase sempre impalpáveis e abstratas, elas ganham vida na interpretação sem ironias do cantor, cujo estilo vem sendo lapidado pela escola de Nelson Cavaquinho e Tom Jobim, duas de suas influências.
"Esse é o traço mais forte do meu trabalho: o núcleo de composição formado por mim, pelo Nuno Ramos e pelo Clima", diz Romulo, que é formado em artes plásticas e trabalha como assistente de Ramos. "Os dois são os maiores letristas da música brasileira. Pena que eles fazem música para um cara que não tem tanta penetração popular."
Romulo atribui a liberdade de criação a "uma certa ignorância musical". "Por não ter uma formação musical muito estreita, a gente faz do jeito que acha que tem de fazer, a gente é livre. Se tem uma coisa das artes plásticas no meu trabalho, é o lance da mistura de influências. Tem a ver com ser artista de um jeito mais amplo, de estar ligado em outras coisas que não sejam só harmonia e melodia."
Romulo: 'Fico irritado quando dizem que não acontece nada na música brasileira'. (Foto: Divulgação)
Trabalhar com artes plásticas, segundo o cantor, "foi um truque pra fazer algo bacana enquando a coisa da música não rola". "Pode não rolar nunca. Podem dizer que eu sou incrível, mas eu não estou tocando mais porque fui capa do caderno de cultura. Posso ser relevante pra pouca gente", fala. "Mas não dá pra ser caixa de banco e fazer canção, não dá certo. Eu faço sabão, eu descolo urubu, arrumo burro, essas maluquices de artes plásticas."
Sambinha
Seu maior objetivo é fazer canções "cantaroláveis". "Sempre uso o exemplo do Tom Jobim, que fazia coisas complexas, de uma grandiosidade artística inacreditável, e as pessoas cantam 'Chega de saudade' como se fosse um sambinha. Aquilo é de uma complexidade absoluta, uma espécie de ideal da vida. Roberto Carlos seria um outro exemplo", cita Romulo, dizendo que não deixou o samba de lado, e sim o rótulo de sambista neste novo disco.
"O álbum mostra mais assuntos, outras coisas que me interessam. É lógico que o samba está lá, meu maior ídolo na vida é o Nelson Cavaquinho. Essa falta de ironia do meu trabalho vem do samba triste. Não tem paródia. Não faço música só pra balançar a cadeira. Tem um envolvimento, aquilo está lidando com a música brasileira, com o que eu penso, pra onde eu quero ir. Esse é o disco mais pop que eu já fiz, embora ele seja experimental, difícil de ser tragado."
Romulo concorda quando dizem que ele faz parte, ao lado de artistas como Guizado e Curumin, de uma geração inclassificável. "Me considero parte de uma geração que eu acho incrível. Fico irritado quando dizem que não acontece mais nada na música brasileira. Tem muito a ver com a galera que começou a produzir seus discos do jeito que dava, de modo independente, é uma galera que gosta muito de música brasileira, que gosta de tudo."
"É uma espécie de realização da tropicália, ela finalmente aconteceu. Aquilo que o Caetano Veloso fazia de jeito meio pragmático, dizendo que gostava de Bob Dylan e de Odair José do mesmo jeito e indo ao programa do Chacrinha. Hoje todo mundo sabe como faz o próprio disco, como funciona um amplificador, uma mesa de som, isso é muito forte. São muitas informações acontecendo ao mesmo tempo. É difícil alguém que catalize toda uma cena, isso não vai acontecer. Nem o Caetano tem mais essa força."
Romulo Fróes "No chão sem o chão"
Quando: quinta (30), às 21
Onde: Teatro do Sesc Pompeia, Rua Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
Quanto: R$ 16
via G1