Por Ricardo Baca
The Denver Post
Lily Allen nunca foi de evitar o sarcasmo ferino ou a franqueza explícita. Em algumas músicas, a estrela pop do Reino Unido insulta por meio de elogios pouco velados, e em outras ela diz de maneira direta exatamente aquilo que está preso na garganta.
O último single de Allen, "Not Fair", é prazerosamente rude ao contar a história de um homem perfeito - até que ela o leva para debaixo dos lençóis. Enquanto lamenta a falta de habilidade horizontal de seu amante de uma forma infantil, a estrela - que escreve todas as letras e participa das composições - revela por que é um enigma tão especial da música pop.
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"Só tem uma coisa atrapalhando. Quando você vai para cama, simplesmente não é bom - é uma vergonha... Não é justo, e acho que você é ruim de verdade".
Allen poderia ter narrado esses sentimentos de um milhão de jeitos diferentes. Mas ela diz que ele é ruim, em vez de encarnar uma Alanis Morissette e estendê-lo no varal. Ela é verbalmente má sem ser cruel, e escreve uma música inteira sobre sexo mantendo-se elegante e muito recatada em comparação às letras que se ouvem no rádio hoje em dia - e essa não é uma acusação fácil.
"Não é tão sexualmente explícita", disse Allen na semana passada por telefone, da Inglaterra. "Ela só está falando francamente. Os homens são mais explícitos no hip-hop sobre o que acontece na cama. Algumas pessoas dizem: 'Mas é muito descritivo' - na verdade não é, comparando com outras músicas por aí".
Allen vê isso como uma questão de duas medidas. "É importante hoje, na época em que vivemos, que as mulheres assumam o controle e se sintam donas de sua sexualidade", diz Allen, "e é isso que estou fazendo aqui".
Aos 23 anos, Allen é muito mais madura do que espera-se para sua idade - algo que alguns atribuem ao seu crescimento em meio ao showbizz: o pai dela é um ator/músico e sua mãe é produtora de filmes. E apesar de isso certamente ter contribuído para ela atingir a fama, está claro que Allen é tão inteligente quanto ousada.
O segundo disco de Allen, "It's Not Me, It's You" ["Não sou Eu, É Você"], foi lançado em fevereiro com o esplendor pop oscilante e franco da faixa principal "The Fear". Allen escreveu sobre ser incrivelmente famosa, é claro. Mas apesar de seu primeiro disco tê-la transformado nessa pretensiosa estrela pop, seu segundo trabalho mistura uma vulnerabilidade real a sua autoconfiança britânica.
Como sabemos que é real? Porque diferentemente de Britney Spears e das Pussycat Dolls, o nome de Allen aparece nos créditos de cada uma de suas músicas.
"Eu não estaria fazendo isso se as músicas não fossem minhas", disse Allen categoricamente. "Eu não teria nenhum interesse nisso. Quando estou no palco, preciso acreditar no que estou cantando. E se outra pessoa escrevesse a música, eu não seria capaz de interpretá-la sem nenhuma convicção."
Muitos artistas dividem a mesma opinião, mas Allen é intensa o suficiente para acreditar nisso de verdade. Ela é Lilli Allen, ouça o seu rugido.
"As pessoas sempre falam comigo sobre o 'American Idol' e o 'Pop Idol'", diz Allen, "mas isso não tem nada a ver com música. É televisão, e aquela música pop fabricada é feita com um propósito específico. Mas não é a mesma coisa que eu faço ou que Kate Nash faz, ou M.I.A faz. É outra coisa".
Será que Allen, uma estrela pop, consegue se sair bem ridicularizando as estrelas fabricadas do pop? Aparentemente sim.
É o que ela faz falando incessantemente sobre os nomes femininos mais quentes exportados pelo Reino Unido na última década. Nash, que já foi chamada de Allanesca, tem seu próprio jeito estranho de narrar uma história - normalmente sobre homens, relacionamentos e autoanálise.
M.I.A. não é tão liricamente versátil quanto Nash ou Allen, mas sua capacidade de criar sonoridades com batidas marcantes, com a ajuda de produtores musicais cuidadosamente selecionados, equipara-a a Justin Timberlake e Jay-Z.
"Nós, mulheres, deixamos muito óbvio que podemos fazer tudo isso tão bem quanto os homens, senão melhor", diz Allen.
Assim como M.I.A. com Diplo, Allen descobriu sua "alma gêmea musical"
no produtor Greg Kurstin, o homem-chave por trás da banda independente Bird and the Bee. Apesar de ter trabalhado com vários outros produtores (incluindo o fazedor de sucessos Mark Ronson) no álbum que a revelou, "Alright, Still", ela permaneceu ligada a Kurstin durante todo o álbum "It's Not Me, It's You".
"Ele é como um jovem Burt Bacharach, e eu sou (Hal David) - ou melhor ainda, eu sou Elton e ele é Bernie", diz Allen. "Ele se envolve bastante... e me inspira muito."
Allen não escreve até ir para o estúdio, diz ela. ("Se eu chego com algo pré-concebido, então isso soa daquele jeito", disse.) Seu processo de compor consistia em Kurstin atrás de um piano, tocando várias progressões de acordes, e Allen no sofá com papel e caneta, dizendo para ele parar quando ela se conectava com alguma coisa que ele tocava.
Quando questionada sobre o que ela acha de suas criações, Allen responde rapidamente: "É absolutamente brilhante" - mas rapidamente recua, revelando suas vulnerabilidades e sua inclinação para a franqueza.
"Não, devo dizer que eu não pensei muito sobre isso", disse ela. "Se você gosta, você gosta. Se não gosta, não gosta. Estou fazendo isso de projeto em projeto, então meu próximo disco será algo completamente diferente".
Tradução: Eloise De Vylder
"O grande segredo para a plenitude é muito simples: compartilhar." --Sócrates
Música é vida!